27/07/2007

Um Banquinho e Um Violão


Há sete anos vivendo no Sul da Flórida. Atravessando a primeira década de um novo século nesta península que festeja o sol e aceita o sal que o vento traz; surpreso, constato que neste período ouvi mais Bossa Nova aqui do que durante o tempo em que vivi no Brasil. Onde a Bossa Nova nasceu nos anos 50 e viveu toda a sua glória.

Neste canto do mundo, estações de rádio que se dedicam a executar Jazz Contemporâneo, ou como eles gostam de chamar aqui de “Smooth Jazz”, não deixam de brindar seus ouvintes com uma ou outra canção que não seja Bossa Nova durante sua programação diária. Em questão de hora, sintonizando esta ou aquela estação, você certamente ouvirá : “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça....” em português mesmo, ou outro hit deste gênero musical que tanto sucesso fez no inicio dos anos 60 no Brasil e consequentemente no mundo inteiro. Ouvirá ainda versões em inglês destes hits, feitas por músicos locais, ou versões consagradas como a do trio Stan Getz / Jobim / Gilberto, esta, uma gravação realizada em 1961 que traz Tom Jobim ao piano, João Gilberto no violão, Stan Getz no trompete e Astruld Gilberto cantando "Garota de Ipanema" uma estrofe em inglês, outra em português intercalada por lindos solos do piano de Jobim, do compasso continuo do violão de Gilberto e como uma serpente excitada passeando entre este acordes o trompete de Getz.

O que me chama a atenção sobre este fato, é que se tratando de Estados Unidos, isto não deixa de ser um fato mercadológico notável. Pois passada a onda que foi a Bossa Nova nos anos 50/60, eis que, apenas pelo notável esforço de uns poucos músicos, e sem nenhum patrocínio, sem nenhuma pressão de gravadoras, sem apoio de Ministério, sem Feira Cultural, sem lenço e sem documento, a Bossa Nova tem hoje aqui nos Estados Unidos mais que um banquinho e um violão neste cenário diversificado que é o mercado de musica aqui, onde o consumo é muito grande.

Mas, quem criou a Bossa Nova?

As curvas das montanhas da Serra do Mar, as curvas de nossas lindas mulheres, os ecos urbanos brasileiros nas ondas do mar e na mata, um bando de “bebums” inspirados que curtiam a vida e a poesia; e uma série de aspectos culturais como o samba e até, pode se dizer, com influências do jazz norte americano (como se discute em alguns meios) mas que não deixa e jamais deixou de ser um produto genuinamente brasileiro, como são outros gêneros musicais do país e outras coisas mais.

O que me chama a atenção quanto a este fato é que não há no Brasil a Bossa Nova. Desde que sai de lá havia e ainda hoje pesquisando na internet homepages brasileiras não encontro nem uma nota, nem um acorde sequer sobre este gênero musical. A Bossa Nova foi enterrada no Brasil há décadas. E eu entendo que alguém, ou alguns, deveriam ir desenterra-la o quanto antes. Achar este tesouro enterrado na alma do Brasil lhe trará fortuna. Ressuscitá-lo e reincorpora-lo na sua veia cultural, então seria mais que glorioso, pois há um mercado enorme e sedento aqui no hemisfério norte do mundo que mantém dentro do seu corpo a marca viva, forte e intocada das batidas de um violão cadenciado como as ondas do mar que batem no nosso litoral.

Mas não só aqui neste canto do mundo este canto poderá incendiar. Incendiar o próprio Brasil com sua leveza e colorido próprio da alma cultural do país. Escrevo estas palavras levado por tal pensamento e vendo em contrapartida o esforço que muitos, no Brasil, fazem em gravar suas canções em espanhol para ganhar o mercado internacional de musica. De fato a língua espanhola tem um passaporte com muitos mais vistos de entrada e saida que a língua portuguesa. Isto se dá pelo fato de haver mais gente falando espanhol no mundo do que português. Inclusive pela distribuição territorial dos povos que falam espanhol ser muito mais abrangente nestas Américas.

Geralmente, gravar uma ou outra canção em português e tentar introduzi-la no mercado internacional, é como jogar um barco contra as pedras da costa, não se chega a praia alguma. Os shows de artistas brasileiros tem como a colônia local: mineiros, goianos, paulistas e cariocas, em sua maioria , loucos de saudades por qualquer coisa que lhes fale do Brasil. E enquanto isto em Gothan City as Shakiras da vida ficam esbanjando sua hispanicidade aos mais diversos públicos.

E eu fico ouvindo Bossa Nova nas estações de rádio, nos parques, nos malls , nas lojas de departamento, fico ouvindo esta musica e me dizendo, conheço o lugar de onde veio esta velha canção.

A Bossa Nova é um grande link do Brasil com o mundo. Não devia ser desprezado.

PS...Este texto foi escrito originariamente em novembro de 2000. Desde lá só posso celebrar o surgimento de grupos como o BRAZILIAN VOICES, o BOSSACUCANOVA, os trabalhos de cantoras como BEBEL GILBERTO, CÉU E ROSE MAX e o esforço de musicos como ROBERTO MENESCAL, RAMATÍS , SÉRGIO MENDES, PERY RIBEIRO, ANTONIO ADOLFO entre outros.




9 comentários:

Paul Constantinides disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Com certeza Paul, Bossa Nova curvas sensuais.
Gostei muito.
Tudo de bom com muita bossa e um violão.
Ayrton.

Anônimo disse...

Olha eu escuto um pouco de Bossa Nova. Mas agora vou escutar mais.
Soraya F.

Anônimo disse...

Ai Paul não perca esta bossa.
Está muito legal o texto.
Abraços.
Silvana

Anônimo disse...

Abaixo a bossa!!!!

Anônimo disse...

Paul, voce continua o mesmo, super poetico, adorei o texto, voce esta de parabens!
E viva a musica brasileira.

Anônimo disse...

Um banquinho, um violão, uma caipirinha e uma companhia agradável vai bem, né?
Tudo de bom.
Carlos Dantas

Anônimo disse...

Beleza amigão.

Anônimo disse...

Paul,decidí fazer uma visita geral no seu blog.é de muita qualidade.sim,aquí no Brasil,estamos vivendo dias de puramente mercadológicos,e não tem espaço para bossa nova.Ou melhor,são pessoas como voce que nos relembra e talvez,traga para muitos através deste blog o primeiro conhecimento.tenho passado seu endereço pra muitos.Obrigada por nos enlevar um pouco mais!