03/08/2007

ERA UMA BRASA, MORA!!!!!



Na primeira metade dos anos 60 os ecos da Bossa Nova dominavam o cenário musical do Rio de Janeiro. Nas casas noturnas e nos teatros, quase tudo o que se produzia era em torno da música criada por Jobins e Menescais. Ainda mais, havia o surgimento de uma estrela maior chamada Elis Regina que emergia no cenário musical e tentava conciliar a Bossa Nova ao Samba Exaltação fazendo sucesso.

No outro lado do Atlântico os acordes das guitarras de grupos como The Beatles e The Rolling Stones ganhavam espaço e chegavam as costas do Brasil. Enfim, o Rock dos Anos 50 ressuscitava pra quem pensava então ter se tratado de uma onda passageira.

No Brasil, nesta mesma época e exatamente no Rio de Janeiro, um cidadão chamado Carlos Imperial que era um misto de produtor musical, compositor e louco, no sentido positivo que esta palavra possa ter; começava a planejar e produzir shows de Rock com artistas brasileiros. Insatisfeito com a pequena receptividade que seu projeto obtinha no Rio ele se mudou para São Paulo onde a TV, então se tornando uma realidade no cone Sudeste brasileiro e com sede em SP, e a Mídia em geral eram mais flexíveis e abertas a outros gêneros musicais.

Na bagagem Carlos Imperial levou consigo um cantor que sabia ser uma promessa e que cantava até então bossas em pequenas festas e por vezes uns rocks na banda de um amigo que tambem iria a SP na mesma bagagem. Tratavam-se de dois Carlos. O cantor que era Roberto Carlos e o amigo musico Erasmo Carlos.

Em menos de um ano o empresário reuniu em torno de si um elenco de jovens cantores, cantoras e compositores e produziu shows de rádio, teatro, matinês, feiras e o que fosse prá introduzir a nova música. A boa recepção do público jovem foi também um marco inicial da entrada deste segmento da sociedade no mercado de consumo de forma mais contundente como até então não havia sido; e desde então, não parou.

As canções deste grupo, na sua grande maioira versões de hits do rock dos anos 50 e também do que estava sendo feito naquela época na Inglaterra, principalmente, causaram grande desagrado a ala de pensadores, críticos e músicos ligados ao samba e que eram conhecidos como a Velha Guarda.

Estas criticas fez com que o empresário em resposta batizasse o seu grupo de Jovem Guarda.

Oficialmente, a Jovem Guarda surgiu em SP no ano de 1965. A TV Record inaugurava um programa semanal aos domingos a tarde com o mesmo nome. Os apresentadores eram Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia, que além de cantarem, apresentavam outros artistas daquele movimento. Começavam as belas tardes de domingo. O mundo alegre, musical e urbano da adolescência brasileira dos anos 60.

Os artistas da Jovem Guarda introduziram de imediato uma modernidade no âmbito social do país. As roupas coloridas que usavam eram consideradas extravagantes. As mini-saias imorais. Os cabelos compridos uma afronta. A música barulhenta. Mas os adolescentes se identificavam com tudo e amavam aquela música e compravam os discos. O programa de Tv era um sucesso estrondoso.

Roberto Carlos foi o maior sucesso que a Jovem Guarda produziu. A voz, a personalidade e o carisma o fizeram líder do movimento e ser chamado de Rei. Seu segundo disco, lançado em 1963, o Splish Splash é um marco da Jovem Guarda. Tráz o seu primeiro sucesso Parei na Contramão” e “Splish Splash”. Mas seu trabalho seguinte em 64 traz a canção que se tornou o marco do início do movimento da Jovem Guarda, O Calhambeque” (versão da canção Hound Dog) foi o primeiro mega hit de musica no Brasil. A Jovem Guarda começou a ser uma marca. Calças com estampas de um calhambeque. Mini saias. O anel do brucutu, alusivo a outra canção que Roberto Carlos cantava. O Mug, um boneco preto e achatado para se pendurar no espelho dos carros. Os cintos de fivela grossa. Tudo era um signo, um marco da Jovem Guarda. A modernidade visual da juventude inglesa invadindo o Brasil pós-caipira da era do Juscelino Kubischeck. O rapaz com ar de boêmio, de camisa branca, fumando um cigarro e tocando violão sai de cena e entra o Tremendão com suas camisa azul e sua calça marrom, exóticamente cantando: “Meu carro é vermelho, não uso espelho prá me pentear.”

Haviam também as gírias introduzidas pela Jovem Guarda. Eram inúmeras e muitas ficaram até hoje. Você conhece aquele cara Papo Firme? Aquela Gatinha Manhosa?

Agora se tudo está bom, legal. É uma brasa, mora? Entendeu?

Pelo fato da Jovem Guarda ter introduzido quase que “in natura” o rock no cenário musical brasileiro, e sendo que a maior parte dos integrantes deste movimento cresceram ouvindo bossa nova; é interessante observar que consequentemente há em grande parte de suas canções um componente excesivamente romântico e suave.

Muitas das canções compostas pela Jovem Guarda, como Gatinha Manhosa, Coração de Papel, Nossa Canção, Não Quero Ver Voce Triste entre outras são executáveis num compasso mais lento e na cadência de uma bossa nova.

Roberto Carlos e Erasmo Carlos, sem dúvida, foram importantes para o sucesso e a duração da Jovem Guarda, a parceria rendeu diversas músicas que representam uma boa fatia dos sucessos que o movimento produziu. Mas nem tudo foi sómente Roberto e Erasmo estejam certos.

O desfile de talentos que a Jovem Guarda promoveu é inumerável e talvez inigualável em qualquer outro momento da musica no Brasil. As composições e voz rouca e envolvente de Martinha, a explosão de Vanusa, o calor, a sensibilidade e o intimismo de Wanderléia, a melancolia de Antonio Marcos, a finesse dos Golden Boys, a vibração de Jerry Adriani, a delicadeza de Leno e Lilian. Nilton Cesar o romântico, a modernidade dos Os Vips, a voz de Dalva de Aguiar, Ronnie Von, Renato e Seus Blue Caps, Silvinha, Eduardo Araujo, Sérgio Reis, o vocal dos The Fevers, o quase tropicalista Os Incríveis, a sublimidade de Evinha e o Trio Esperança , Wanderley Cardoso e tantos, tantos outros.

É lamentável mas compreenssível que muitos destes artistas depois do fim do programa Jovem Guarda na TV em 1969, não sobreviveram no mercado por anos depois e sumiram praticamente.

Com a comemoração dos 30 anos da Jovem Guarda em 1995 e o lançamento da excelente caixa com 5 CDS com regravações de tantos sucessos produziu o ressurgimentos de vários destes artistas na mídia.


A Jovem Guarda foi um momento marcante da musica popular no Brasil.

Foi um fenômento conectado e simultâneo a movimentos semelhantes que ocorreram em vários países do mundo praticamente ao mesmo tempo e que pode ser classificado como uma onda musical que atingiu grande parte do mundo e teve os Beatles como carro chefe desta inundação.

Imagens daquelas tardes de domingo na TV em preto e branco estão vivas na cabeça de milhares de adolescentes e pré-adolescentes da segunda metade dos anos 60. Canções como Que Tudo Mais Vá Pro Inferno”, “A Praça”, “Eu Te Darei o Céu”, “Prova de Fogo”, “Socorro, o Nosso Amor Está Morrendo”, “Mar de Rosas”, “A Volta”, “A Namorada Que Sonhei”, “Eu Daria a Minha Vida” entre outras ainda emocionam quando ouvidas e estão entre as mais tocadas e preferidas de toda uma geração.

Foi uma brasa, mora?

6 comentários:

Anônimo disse...

Amigão. Isto ai ficou uma BRASA mesmo. Viajei.
Abração
Gustavo

Edna disse...

Bons tempos....tempo também que a tv em nossa casa levava meia hora pra esquentar e depois tinha que apanhar pra pegar. Quando eu conseguia ver RC...ai..ai...era um delírio. E as moças ricas na platéia, então? uma referência de bom gosto e moda....Deu saudade!
Edna Medici

Anônimo disse...

Caramba Paul, este papo ai é uma brasa, mora?
Adorei.
Fernando Antunes

Anônimo disse...

Paul
A música da Jovem Guarda enjoa um pouco, mas ouvir de vez em quando é legal.
Viva a nostalgia.

Maga P.

Anônimo disse...

Parou na contramão amigão.
Viva a Bossa Nova, abaixo a Jovem Guarda!!!

Anônimo disse...

Parei! Olhei!
e gostei.
risos
abração
Cido