05/09/2007

A BANDA DOS DESCONTENTES (PARTE 1) Geraldo Vandré, a canção política, de protesto.


Em meados dos anos 60 enquanto a Jovem Guarda explodia nas rádios e o Tropicalismo tornava-se a vanguarda da música brasileira; um outro grupo de jovens e talentosos compositores também surgia no cenário.

Não exatamente com um proposta radical e inovadora como o Tropicalismo ou um direcionamento musical como a Jovem Guarda; estes compositores, na sua maioria atados com a chamada “velha guarda” do samba, com a excelência da Bossa Nova; ou ainda com o regionalismo das canções nordestinas se fizeram presentes e marcantes num dos momentos mais criativos, modernizantes e efervecentes da musica popular brasileira e ajudaram a definir as vertentes musicias que surgiriam a partir de então.

Deste grupo destacam-se Chico Buarque, Edu Lobo e Geraldo Vandré.

Estes três compositores com sua obra, atuação e talento catalizaram o lado mais tradicional da musica brasileira e a conduziram ao patamar da modernidade desejada nos anos 70. Fizeram isto não só com musicalidade, mas também com a poesia. A palavra cantada se tornou a identidade deste grupo de compositores e o descontentamento crescente gerado pelo golpe militar de 64 ganhava ecos distintos em muitas de suas canções.

Geraldo Vandré paraibano radicado no Rio durante a adolescência. Um cantor de voz potente que já na infância tomava parte em programas musicais em João Pessoa e depois no Rio.

Durante sua juventude na faculdade se envolveu com a UNE (União Nacional dos Estudantes) e com seu Centro Popular de Cultura, um órgão de produção cultural que mantinha ideais socialistas. Lá conheceu Carlos Lyra, por sua vez já envolvido com a Bossa Nova, e torna-se seu parceiro em canções como "Quem Quiser Encontrar o Amor" e "Aruanda, onde já demonstra suas tendências musicais regionalistas e politicas . Em 64 grava seu primeiro LP Geraldo Vandré. No ano seguinte em São Paulo participa do I Festival da MPB da TV Excelsior defendendo a canção “Sonho de Carnaval” de Chico Buarque. No ano seguinte vence o festival, desta vez, com sua canção Porta-Estandarte”, defendida pela cantora Tuca.

Com o sucesso da vitória monta a banda, Quarteto Novo com Hermeto Paschoal, Heraldo do Monte, Airto Moreira e Theo de Barros que o acompanha em excursão pelo Nordeste e grava o disco Hora de Lutar” que traz canções como Âruanda”, “Hora de Lutar”, “Dia de Festa”, “Canto do Mar”, “Sonho de Carnaval” (Chico Buarque), canções de inspiração socialista, românticas e políticas (de protesto).

Em 66 ele compõe Disparada uma de sua mais famosas canções e que com o tempo se tornou um clássico da musica popular brasileira. Por sua capacidade de retratar num personagem tradicional, o boiadeiro, as angústias sociais e políticas contemporâneas; a canção alcançou grande sucesso popular na voz de Jair Rodrigues e obteve a primeira colocação no Festival da Excelsior daquele ano num histórico e polêmico empate com outra canção que o tempo vez virar um clássico; “A Banda” de Chico Buarque, cantada por Nara Leão.

Este periodo foi o intenso e produtivo na curta carreira de Geraldo Vandré. Ele participou de vários festivais em SP e no Rio. Fez shows em universidades e participou por cinco mêses de um programa na TV Record chamado Disparada.

Em 68 Vandré lançou o disco Canto Geral” com canções já defendidas em festivais e outras como Maria Rita” , “Companheira” e “Guerrilheira”. Sempre acompanhado pelo Quarteto Novo que mantém o sumo do regionalismo nordestino misturado ao beat da bossa nova.

Neste ano Geraldo Vandré apresenta outra canção para o Festival da TV Excelsior, só que desta vez ele sobe ao palco com seu grupo para defende-lá.

Quando Geraldo Vandré subiu no palco da Tv Excelsior e começou a cantar: “Caminhando e cantando/Seguindo a canção...” a canção escorria como lava quente sobre a platéia que a ouvia no teatro e foi ganhando as ruas , os centros estudantis e chegando as rádios com intenso sucesso.

Prá Não Dizer Que Não Falei das Flores” ficou em segundo lugar no Festival. Irônicamente perdia para outra canção romântica de Chico Buarque, O Sábia”.

Durante a apresentação da canção vencedora o público a vaiava e cantava refrões da canção de Vandré.

"Para Não Dizer Que Não Falei das Flores" automáticamente se tornou um hino das manifestaçõs estudantis e políticas da época. Em questão de poucos dias a musica foi censurada pelo governo e proibida de ser executada em qualquer lugar público do país.

Geraldo Vandré por fim foi preso e exilado do país.

Vivendo no Chile, na Argélia, na então Alemanha Oriental, Grécia, Áustria, Bulgária, Itália e França. Geraldo Vandré viveu de 1969 até 1972 no exílio se apresentando em alguns programas de TV, cantando em povoados e tendo musica gravada pelo italiano Sergio Endrigo.

Em seu retorno ao Brasil gravou e lançou Das Terras do Benvirá”. Na ocasião, gravou dois especiais para programas de televisão. Uma apresentação para o Fantástico da Globo e outra para o programa Flávio Cavalcanti na Tupi. As gravações foram censuradas e as músicas de seus disco recem-lançado também.

A partir de então, Geraldo Vandré se isolou e caiu no ostracismo.

Com o passar do tempo, devido ao silêncio, virou mito para as gerações seguintes que começaram a citá-lo como mártir, por supostamente ter sido torturado, e como louco, pela atitude isolada e reclusiva que tomou.

Por mais de 30 anos Geraldo Vandré não concedeu entrevistas e apareceu apenas duas vezes cantando em lugares público. Uma vez no Paraguay em 1982, outra no Memorial da América Latina em SP em 1995. Este ultimo causando estranhesa pelo fato de ter sido durante a comemoração promovida pela Força Aérea Brasileira durante a Semana da Asa.

2 comentários:

Unknown disse...

Geraldo Vandré sempre foi uma contradição.

Anônimo disse...

caminanhando e cantando
e voce caminhando e postando
muito legal


vaninha