PELOS TRILHOS

Pelos trilhos que passam pela estação de Opa-locka

E me deixam acerca da Brickell Avenue na esquina com a Fittipaldi Way

Vi um jovem brasileiro, filho de cubano com uma mulher de Maceió

Que contou nos dedos todas as vezes que tentou passar no teste do Correio

E agora sonha com melhores tempos idos

Seja em Cuba, no Brasil ou nos Estados Unidos.

Vi um haitiniano usando um enorme brinco prateado

Falava tão alto ao celular, como se estivese sozinho dentro do vagão

Semi-lotado na manhã quente de agôsto e que chacoalhava sobre os trilhos.

Vi mulheres amanhecidas, olhares cansados, absortas num jogo de celular

Outras com ares preocupados, ou então distraidas com o espelho e o batom.

A turista tcheca de lindas pernas e ingles cru, solicitando:

Quando o trem passa pelo aeroporto?

Um grupo de imigrantes latinos discutindo la partida del futebol.

O piloto da AA telefonando para o pai dizendo que iria voar naquele fim de semana.

Um jovem jogado no canto da janela observando a paisagem riscada e ligeira dos edificios

Surfando tranquilo em seu MP3 player enquanto as pessoas ao seu lado mal se mexiam.

Observei a mulher solitária com seus lindos cabelos grisalhos perdida nos reflexos da janela

E uma jovem mãe absorta enquanto a pequena filha tentava dormir.

Pelos trilhos que passam pela estação de Opa-locka

O maquinista fala pelo sistema de som: Oooooooooooopa!!! Loooooooooocka!!!

E pede a todos que tenham cuidado ao descer do trem.

Existe esta sensação de liberdade passando pelo vento dos cabelos

Mas o que permeia dentro desta realidade é de fato a grande engrenagem

De vidas tão distintas e incompletas que vagam tristes ou alegres pelo planeta.

fotos e poema: paul constantinides