10/11/2008

SAUDOSAS BOLACHAS (1970)_01

A partir deste post irei comecar a série Saudosas Bolachas. Pretendo divulgar, com breves comentarios, uma lista de músicas e discos da década de 70 que considero importantes para entender o processo cultural do Brasil neste período quando a canção brasileira, depois de ter vivido nos 60 o Tropicalismo, a Jovem Guarda, o Fino de algumas Bossas, a Toada e outros movimentos de fusão de estilos e tendências se deu, como MPB .
Também, é uma lista que eu daria a qualquer pessoa que me dissesse estar interessada em montar uma discoteca básica do que melhor aconteceu musicalmente no Brasil nos anos 70.
Irei postando seguindo ordem cronológica anual. Aceito opiniões, sugestões, colaborações e palpites.

PS: Saudosas Bolachas. Bolacha era como alguns chamavam nos anos 60/70 o LP de Vinil.

1970
Ano em que o Brasil se sagrou Tri Campeão de Futebol na IX Copa do Mundo no Mexico e em que morreu Janis Joplin. O Brasil era governado por uma ditadura militar. O general Emilio Garrastazu Medici era o presidente e vivia-se sob o Ato Institucional 5 (AI-5). Havia forte censura e falava-se em “milagre brasileiro” e Transamazônica.
Havia um grande numero de pessoas presas, torturadas, desaparecidas e exiladas por motivos politicos; entre elas, do meio musical, Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, entre outros.

A MUSICA: BR-3

BR-3” é uma música que ilustra bem este ano. Hibrida de balada, soul music e ainda um tipo de improviso que hoje facilmente se chama de rap. Foi composta para ser defendida no Festival da Canção da Globo, e foi vencedora. Gravada por Tony Tornado acompanhado pelo Trio Ternura. A letra de estrutura simples nos fala atraves de sobreposição de imagens sobre tecnologia incorporando religião, sugere uma "trip", fala em manipulação de informação e mortes.
O coro costurando a musica, repete: “ A gente corre/ A gente morre / na BR-3....”

(foto: arquivo Tony Tornado)
BR-3
(Antonio Adolfo-Tibério Gaspar)

A gente corre na BR-3
A gente morre na BR-3
Há um foguete
Rasgando o céu, cruzando o espaço
E um Jesus Cristo feito em aço
Crucificado outra vez
E a gente corre na BR-3
E agente morre na BR-3
Há um sonho
Viagem multicolorida
Às vezes ponto de partida
E às vezes porto de um talvez
E a gente corre na BR-3
E a gente morre na BR-3
Há um crime
No longo asfalto dessa estrada
E uma notícia fabricada
Pro novo herói de cada mês


O DISCO: LEGAL

LEGAL é o quarto disco de Gal Costa e foi lançado em 1970. Nesta altura a jovem cantora era identificada como a diva do Tropicalismo e já tinha feito sucesso com canções como “Divino e Maravilhoso” (Caetano Veloso e Gilberto Gil) , “Baby e “Cinema Olympia” (Caetano Veloso) e; “Tuareg” e “Pais Tropical” (Jorge Ben).
Em LeGal se vê uma continuidade de uma qualidade e do padrão que existem em seus dois discos anteriores “Gal” de 68 e 69; e que se vera ainda nos posteriores “A Todo Vapor” (71), “India”( 73) e “Cantar” (74).
Esta qualidade e padrão provem da natureza sonora que se fia em seus discos pela patente dos arranjos em base de rock, misturados com toadas , baladas de blues e por vezes sambas e trio elétricos. Alia-se a fineza da sua voz, em pleno esplendor da sua juventude, o repertório irretocável de bons compositores e poetas ligados ao Tropicalismo.

A guitarra de Lani Gordon se faz presente com suas distorções ecoadas. Neste disco um marco particular é a presença “bluesy” de Jards Macalé que alem de fazer arranjos , contruibui com três belas canções “Hotel das Estrelas” e “Love, Try and Die” e “The Archaich Lonely Star Blue”.
Destaca-se ainda a sua suave regravacao de “Falsa Baina” (Geraldo Pereira) e a perola da jovem guarda “Eu Sou Terrivel” (Roberto Carlos).
Esta distância generica que existe entre “Falsa Baiana” e “Eu Sou Terrivel”, e que Gal percorre como se nao existisse: e ainda, unindo e conectando com seu canto moderno compositores de outras alas, como Macale ; e sendo porta voz de seus amigos exilados (Caetano e Gil) lançando a balada “London, London”(Caetano Veloso) e a melancólica “Minimisterio” (Gilberto Gil).

Tudo isto faz de LeGal um disco importante e bom de ser ouvido ainda hoje. Há ainda, a linda composição gráfica da capa feita por Helio Oiticica. O rosto de Gal cortado pela metade e com colagens de fotos sobre seus cabelos; sem duvida uma das capas mais interessantes do periodo.

Visite
http://www.galcosta.com.br/sec_discografia_view.php?id=5 e escute as musicas do LEGAL

(fotos: reproducao da capa do disco LEGAL/GAL COSTA)

Hotel das estrelas
(Jards Macalé e Duda)

Dessa janela sozinha
Olhar a cidade me acalma
Estrela vulgar a vagar
Rio e também posso chorar
E também posso chorar
Mas tenho os olhos tranqüilos
De quem sabe seu preço
Essa medalha de prata
Foi presente de uma amiga
Foi presente de uma amiga
Mas isso faz muito tempo
Sobre um pátio abandonado
Mas isso faz muito tempo
Em doze quartos fechados
Mas isso faz muito tempo
Profetas nos corredores
Mas isso faz muito tempo
Partos embaixo da escada
Mas isso faz muito tempo
Oh! Oh! Mas isso faz muito tempo
Mas isso faz muito tempo
No fundo do peito esse fruto
Apodrecendo a cada dentada
Oh! No fundo do peito esse fruto
Apodrecendo a cada dentada
Mas isso faz muito tempo
Sobre um pátio abandonado
Mas isso faz muito tempo
Mas isso faz muito tempo
...
Dessa janela sozinha
Olhar a cidade me acalma
Estrela vulgar a vagar
Rio e também posso chorar
Oh, e também posso chorar

2 comentários:

Anônimo disse...

OI, PB queridófilo.

Comecei a ler sua Saudosa Bolacha Musical. Muito boa a idéia. Amei!!!!
Sobre a música BR3, o trio vocal que acompanhava o Tony Tornado era o Trio Ternura. A Evinha não cantava neste trio. Ela era do Trio Esperança, com os irmãos Evinha, Marizinha e Mario. Depois de um tempo a Marizinha saiu e entrou a Regininha. Evinha, Marizinha e Regininha vivem na Franca onde continuam cantando e divulgando a música brasileira. Mario vive no Rio de Janeiro, é professor de inglês e dono de um curso de idiomas.
Já ouvi de algumas pessoas desta época que BR3 pode ser compreendida e interpretada como uma apologia aos ácidos alucinógenos, muito em voga naqueles tempos. BR3 seria a "veia mestra" que levava o ácido diretamente ao cérebro, propiciando a viagem sideral.

Já me tornei leitora assídua das bolachas.
Abração.
Rose

Paul Constantinides disse...

Rose
valeu o super toque...quem viajou fui eu nao? risos, fixado pela Evinha vai ver...vou corrigir a gafe...e valendo o toque amigo.
BR-3 eh uma cancao cheia de referencias mesmo.

abs
Paul