11/12/2008

SAUDOSAS BOLACHAS_06

QUATRO BANDAS E A MODERNIDADE.

Em 1970 quatro bandas lançaram seus trabalhos. O que tinham em comum? Apenas, mas importantemente, a modernidade.
Cada uma à seu modo, arraigada a sua origem trabalhava a sonoridade e produzia musica brasileira de forma diversi
ficada.
Duas delas (O
s Novos Baianos e Som Imaginário) eram estreantes, outra (Antonio Adolfo e a Brazuka) lançava o último disco de uma curta carreira; e por fim a quarta (Os Mutantes) lançava o terceiro disco e ingressava numa rota de colisão.

NOVOS BAIANOS
É FERRO NA BONECA
(1970)

Novos Baianos, foi inicialmente formado por Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Moraes Moreira e Baby Consuelo.
Luiz Galvão, Paulinho e Moraes cantavam num espetáculo teatral montado em Salvador num âmbito universitário e lá conheceram a poderosa guitarra de Pepeu Gomes que tocava numa banda de rock. Na mesma época, num bar, conheceram uma turista de Niterói, Baby Consuelo; que não voltaria tão cedo a sua cidade.
O merengue dos Novos Baianos formou-se a partir de uma grande influência do Tropicalismo, do rock, do forró e do samba.
Neste primeiro disco da banda ainda não há a fluência sonora que a caracterizou como a que melhor conseguiu unir o samba ao rock. Mas em “Ferro na Boneca” pode-se notar todo o potêncial artístico de seus integrantes; a suavidade de Moraes Moreira, o estilo “crooner” de Paulinho, a irreverência de Baby e os solos magníficos de Pepeu, que participa como convidado neste disco.
A faixa-título do disco “Ferro na Boneca” é puro rock-maxixe. Anos 70 na cabeça, no topo, na alma e na letra que começa dizendo assim: “Não não é uma estrada, é uma viagem...”
Sempre que leio ou me lembro de que Moraes, Paulinho e Galvão conheceram Baby Consuelo num bar na cidade de Salvador; penso no que teria ocorrido se além dela tivessem conhecido o baiano da mesma geração Raul Seixas.
Mas Raul em 69 já morava no Rio e trabalhava numa gravadora, e seu destino era outro.

SOM IMAGINÁRIO
SOM IMAGINÁRIO
(1970)

Nascida no Rio de Janeiro, mas formada basicamente por mineiros; a banda Som Imaginário nasceu de um movimento e agrupamento de musicos que acompanhavam Miltom Nascimento nos anos 60 em Belo Horizonte e o seguiram quando começou a atuar e a gravar no eixo Rio-SP.
O Som Imaginário teve sua formação original com Wagner Tiso (teclado), Luis Alves (baixo), Robertinho Silva (bateria), José Rodrix (voz, flauta, orgão), Tativo (guitarra base) e Frederiko (guitarra solo).
Depois de gravarem com Milton Nascimento o LP "Milton" (1970); o grupo entrou no estúdio e gravou um disco pulsante e explosivo. A banda obteve uma sonoridade incrivelmente potente e corrosiva que faz muitos considerarem o Som Imaginário como a primeira banda de rock progressivo do Brasil.
De fato, com algumas faixas em inglês e outras totalmente instrumentais; as vezes ao ouvir este LP se tem a impressão de que o que est
á tocando é uma banda de rock estrangeira; e não uma banda brasileira.
O Som Imaginário naquele momento soltaram as amarras e deixaram fluir o som.
A importante contribuição sonora que dariam no ano seguinte em “Clube da Esquina” já pode ser vislumbrada em faixas como “Feira Moderna” (Beto Guedes-Fernando Brant) e na candida “Sábado”(Fredera); e isto, justifica a explosão que estes músicos tiveram ao gravarem este disco.
Outro marco do ano de chumbo ensolarado, 1970.

ANTONIO ADOLFO E A BRAZUKA
BRAZUKA 2
(1970)

Em 68, no Rio de Janeiro, depois de ter tocado no Trio 3D, o pianista e compositor carioca Antonio Adolfo montou uma banda inspirada no Sérgio Mendes Brasil 66 , o Conjunto 3D que durou um ano. Neste período ele passou a frequentar a casa de Marcos Valle onde um grupo de músicos discutiam a Toada e novos rumos para a música brasileira. Neste meio ele conheceu o letrista carioca Tibério Gaspar e juntos deram início a um processo criativo que resultou em várias músicas e no conjunto A Brazuka.
Na Brazuka a alquimia se dava atrav
és de reminiscências de samba jazz passando para o jazz progressivo; influencia do rock, musica pop, ritmos nordestinos, toada, poesia urbana e dissonâncias vocais. Predominava a suavidade com a musicalidade e arranjos de Antonio Adolfo no piano acústico e no teclado eletrônico. Esta suavidade ganhava corpo tambem com os efeitos vocais; ressaltado pelo uso de dois vocalistas ( Luiz Keller e Bimba). A formacao da banda completada com Luizão Maia no baixo, Luis Cláudio Ramos na guitarra e Paulo Braga na bateria garantia a alta qualidade sonora do grupo.
Em 1970 o grupo lançava o seu segundo disco , precedido pelo Brazuka 1 de 69 que fez sucesso com “Teletema”. No Brazuka 2 músicas como “Pela Cidade”e “Que Se Dane” são registros da simbiose da música popular brasileira.
Em “Atenção! Atenção! “a música começa com um solo de guitarra esquálido e distorcido, a voz masculina corta: Atenção!/ Atenção!/ Há um homem nesta solidão/ A canção /A canção/ Está na festa e no meu coração...” O coro feminino com a vozes ecoando: “Lá rá lá... Lá rá lá... a voz masculina dá um grito e entrecorta o solo de guitarra metálico.
O pop do início dos anos 70 abraçava o verão carioca.


PS: A Brazuka se dissolveria no ano de 1970 devido as pressões políticas sobre a produçao artística naquele período. Antonio Adolfo se mudaria para os Estados Unidos , depois França e quando regressaria se dedicaria à carreira solo.

OS MUTANTES
A DIVINA COMEDIA OU ANDO MEIO DESLIGADO
(1970)

Os Mutantes foram a banda do Tropicalismo.
Seus integrantes, todos paulistas; eram Rita Lee (vocal) e os irmãos Arnaldo Baptista (guitarra base) e Sérgio Dias (guitarra solo).
Em 1970, o trio já havia lançado dois Lps, experimentado o sucesso com suas versoes de Baby (Caetano Veloso) , “Panis Et Circenses” (Caetano e Gil) e com canção de autoria do grupo “Dom Quixote”. Também haviam conhecido a polêmica dos festivais e obtido o reconhecimento da crítica por suas criações musicais altamente originais e influênciada pelos Beatles, música erudita, psicodelismo e poesia concreta.
Neste ano o baterista Ronaldo Leme e o baixista Liminha come
çavam a tocar com o trio, fazendo assim , como mesmo diziam os integrantes da banda; parte da “família” Mutantes.
"A Divina Comedia ou Ando Meio Desligado” é outro bom album dos Mutantes. A canção título “Ando Meio Desligado” foi, é um hino hippie e dos “loucos”. A opção desligar-se era uma das alternativas para a juventude do início dos anos 70 diante do peso pesado que era a política local, onde se você era contra morria.
Os Mutantes foram os baluartes de uma geração de jovens desligados, ligados, alucinados ou não que entravam na viagem psicodélica da banda.
Neste album há a pinkfloydiana “Meu Refrigerador Não Funciona” e a excelente versão irônica e pseudo-dramática de “Chão de Estrelas”. Os arranjos e os desarranjos de Rogério Duprat e a participação de Nana Vasconcelos.
A capa escura e em preto e branco, onde se ve Arnaldo saindo de um sarcofago observado por Rita Lee e Sergio Dias pode parecer tetrica mas tem um forte significado mitológico para àquela época, tanto no sentido existencial como no social-politico.
Ps: Os Mutantes ainda gravariam outros dois discos com Rita Lee e outro sem ela até 1973. E ainda continuaria com Sérgio Dias até 1974. O disco de 1970 é o começo do fim.



Ando meio desligado
Arnaldo Baptista - Rita Lee - Sérgio Dias

Ando meio desligado
Eu nem sinto meus pés no chão
Olho e não vejo nada
Eu só penso se você me quer

Eu nem vejo a hora de lhe dizer
Aquilo tudo que eu decorei
E depois o beijo que eu já sonhei
Você vai sentir, mas...
Por favor, não leve a mal
Eu só quero que você me queira
Não leve a mal


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