26/03/2009

Cris Delanno

O CLÁSSICO MODERNO
O MODERNO CLÁSSICO


Cris Delanno, cantora carioca nascida no Texas, nasceu para cantar Bossa Nova. Sua voz é uma das que melhores interpretam este gênero musical. Porém, esta qualidade, não a afasta da condição de ser uma das vozes femininas mais modernas do cenário musical; basta atentar para a textura de sua voz, perceber sua musicalidade e o tratamento que dá a qualquer canção que execute. Basta ouvir seu último Cd “Cris Delanno” (produção Alex Moreira ) ou uma de suas gravações com o inventivo grupo BossaCucaNova. Ver a contemporaniedade que há quando ela interpreta Nara, Jobim, Newton Mendonça; ou quando canta com Roberto Menescal.
Mas o melhor é vê-la no palco, onde se pode contemplar como ela se entrega fisica e emocionalmente quando canta. Foi o que vi aqui em Miami na semana passada; onde tive a oportunidade de assisti-la no show do Brazil on the Beach, fotografá-la e também fazer esta pequena entrevista com figura extremamente simpática.

(para conhecer a obra de Cris Delanno visite : http://www.crisdelanno.com/ )\

Leia a entrevista ouvindo Cris cantando com o BossaCucaNova “Onde Anda Meu Amor”(Orlandivo);








ou cantando musica de Newton Mendonça “O Domingo Azul do Mar”.




Para você o que significa cantar?
Hoje em dia é a maneira mais completa de me expressar. Quando comecei não tinha muito motivo. Vivia cantando e minha mãe achou que deveria achar um lugar pra eu extravazar. Ela também gosta muito de música.

Quando e como você começou a cantar?
Aos 5 anos no Coral Infantil do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A Maestrina Dona Elza Lackervitz foi uma grande Mestra!

Técnica ou emoção, o que canta mais alto?
Me parece que o equilíbrio é sempre a melhor opção em tudo na vida. Trabalho bastante a técnica, até pelo meu background de ter começado com a música clássica, mas acho que o canto sem emoção é um pouco em vão. Pelo menos pra mim. Me sinto vazia. Acho que a emoção chega em qualquer idioma, qualquer país, as pessoas sentem e se identificam. Mas também não precisa rasgar o coração o tempo todo, se não cansa até quem está escutando.

Quem você considera a sua maior influência? Teve alguma cantora que para você é uma importante referência?
Leny Andrade, Joyce e Elis. A Leny sempre me deu a maior força. Sempre com palavras e gestos de incentivo, tipo surreal. Ela é uma Diva!!! A Joyce de quem sempre fui totalmente fã agora posso ter o prazer de dizer que somos parceiras musicais porque fizemos uma música juntas: “Dejá Vu” (uma bossa-bolero) A Elis... não tive tempo de conhecer pessoalmente, mas a sua música me influenciou na mesma intensidade.

Voce nasceu no Texas e isto faz me acreditar que você, mesmo assim, tem em sua família raizes brasileiras; ou você é de uma familia estrangeira que imigrou para o Brasil durante a sua infancia?
Meu pai é baiano e minha mãe do Rio. Eles estavam estudando nos EUA quando nasci. Me considero carioquíssima! É só ouvir o meu sotaque carregado e arrastado de carioca.

Há algum impacto ou influência no seu trabalho pelo fato de você ter vivido nos Estados Unidos durante a infância e depois entre 1993 e 1995?
Impacto total foi a minha experiência cantando com o African American Unity Choir. Um coral Gospel de Miami que eu escutei e fiquei completamente apaixonada. Pedi pra assistir os ensaios e fui convidada pra cantar com eles. Foi uma experiência extraordinária! Fiquei várias vezes sem voz tentando imitar o som que eu escutava, mas hoje em dia achei um lugar confortável em que uso algumas coisas que aprendi sem me machucar.

(Cris a esquerda com o African American Unity Choir _foto cedida pela cantora)

Eu percebo que há uma tendencia do brasileiro que vive no exterior em valorizar mais a musica brasileira de raizes, original; assim como choro, samba e bossa nova. Ao contrário do que o que vive no Brasil exposto há uma gama de ritmos musicais de várias origens. Você concorda com isto?
Eu tambem percebo isso. Quando morei fora do Brasil percebi o quanto amava meu país e vi que era muito mais do que eu imaginava. Quando a gente tem tudo muito perto e fácil, às vezes a gente não valoriza (we take it for granted), mas a música brasileira é considerada no mundo inteiro como sendo das melhores e eu concordo. O meu som é bem brasileiro nas composições, tanto as que apenas interpreto como nas minhas composições sou bastante influenciada pela Bossa Nova, Chorinho, Samba, Valsa Brasileira, etc. Só que acho que às vezes pode ficar interessante se a gente misturar com outros elementos mais contemporâneos, com texturas eletrônicas, que é o trabalho que tenho desenvolvido com o Alex Moreira, que é do BossaCucaNova.

Tanto no palco como em suas gravações percebe-se um exímio domínio técnico da voz. Teve algum momento da sua vida em que você se dedicou a estudar canto, ou algo assim? E que cuidados voce toma com a voz?
Obrigada, mas menos, Paul, menos... Sempre me dediquei muito ao estudo do canto. Desde os 5 anos até uns 25 anos. Há 11 anos dou aulas de canto e acho que isso me ajuda a ficar “em forma” de certa maneira. Quando estou com dificuldade em alguma música, procuro “resolver” tecnicamente como vou fazer pra deixar a emoção fluir melhor.

Outra coisa interessante é sua expressão corporal. Há tempos eu não via alguem colocar tão bem com gestos, movimento e voz a emoção da música. O que tens a dizer a respeito?
Além de cantar, vivia me movimentando o dia todo. Tipo cantando e dançando. Fui estudar ballet, jazz, ginástica ritmica, olímpica. Fiz um pouco de tudo e não sei fazer nada direito. Ainda mais agora que tem uns 20 anos que parei com essas coisas.

Bossa Nova ou BossaCucaNova? Isto é: Roberto Menescal ou Alex Moreira e cia? Como você balança entre o moderno e o clássico?
Ser ou não ser. Eis a questão... Sou totalmente a favor dos dois!! Essencialmente é a “mesma música”, nos dois trabalhos, canto o mesmo estilo de repertório, mas em cada um de uma forma diferente. Com o Menescal gravei um disco de voz e guitarra. Só nós dois. Isso deixa a voz e a guitarra em total evidência. É uma forma de fazer música. Com o Alex e o BossaCuca temos vários outros elementos que estão presentes. Elementos eletrônicos, DJ, a maneira de cantar modifica um pouco. Demorei pra “pegar” o jeito com eles, mas já estamos juntos há 7 anos (a banda tem 10 anos) e tudo flui naturalmente. Já viajei o mundo todo cantando música brasileira, o que eu acho o máximo! E não é?

(Cris e Alex Moreira_foto Frederico Mendes)

O disco em que você gravou musicas do Newton Mendonça(“Cris Delanno Canta Newton Mendonça”, 2002) tem uma aura tão sentida e exata da dimensão da obra deste compositor. Como foi gravar este disco?
Fui convidada pelo Marcelo Câmara a gravar este disco, que foi uma forma de homenagear a música do Newton, que foi o primeiro parceiro de Tom Jobim. Ele morreu muito novo, aos 33 anos, mas teve tempo de compor "Samba de uma nota só" e "Desafinado", entre tantas outras. No disco escolhemos as mais desconhecidas, várias com o próprio Tom e algumas letra e música do Newton. As composições eram da época de transição do Samba Canção pra Bossa Nova, então gravamos algumas composições bem no estilo (musica e letra) do Samba Canção, mais denso, tipo “Você morreu pra mim” e outras mais Bossanovistas, mais leves, tipo “O Domingo azul do mar”. Foi incrível.


(foto :Ana Ferr)
Tua discografia em grande parte é dedicada aos clássicos da Bossa Nova e MPB, este novo disco “Cris Delanno” , que tem uma linda capa e traz musica do Queen. Que novidades este disco tem?
Gravei Tom Jobim, o repertório da Nara Leão que veio de um show feito em homenagem a ela, Newton, Mendonça, até Clássicos do cinema norte-americano gravei. Este CD “Cris Delanno”, que foi uma encomenda de uma gravadora japonesa, fizemos um repertório com vários compositores diferentes. Tem Menescal, Marcos Valle (numa parceria inédita com Gabriel, O Pensador, João Donato, Caymmi, Joyce, todas essas influências desde sempre e outras coisas tipo Freddie Mercury e Herbert Vianna, que são influências que à princípio não teriam nada a ver com as outras músicas, mas fizemos de uma forma bem dentro do resto do disco. É como se fosse comida, uma mistura de ingredientes inusitados, mas que se harmonizam bem.

3 comentários:

Anônimo disse...

Adorei

Ele é realmente maravilhosa e um prazer para trabalhar.

Gene

Anônimo disse...

Muito Bom !



Atenciosamente,



Antonio

Paul Constantinides disse...

Gene, sem duvida!
A Cris deu um belo show aqui em Miami.

Antonio, obrigado pelo apoio.
abs
Paul