Leia e escute também algumas de suas composições
1. Antonio Adolfo, você iniciou sua carreira profissional aos 16 anos de idade tocando com o Trio 3-D na peça musical de Carlos Lyra: “Pobre Menina Rica”. Foi fácil ou difícil para voce esta iniciação? O fato de você então adolescente transitando no mundo de adultos; encontrou alguma resistência, restrição? Que tipo de dificuldades você encontrou?

2. O Trio 3D gravou belos albuns entre 64-66; surgiu com o Samba Jazz durante a consagração internacional da Bossa Nova. Como você se lembra deste momento tão interessante da música na sua cidade, Rio de Janeiro. Como era a convivência entre os músicos de diferentes trios, já que na época houve uma explosão de trios?
Era muito boa. E o Rio era lindo – e continua - , mas era muito tranquilo e havia muito respeito. A gente se reunia no Beco as Garrafas e em outras “praias’ em jam sessions maravilhosas, onde havia muito musico craque. No próprio Beco, no Little Club aos domingos apresentavamos uma jam session de 6 da tarde as 10 da noite. Havia também muito papo, muita troca de discos, etc. Um momento muito rico. Vi surgir muito músico da pesada por ali. E isso so estimulava a que a gente estudasse e pudesse tocar o melhor possível. Em 65, o trio gravou convidando grandes craques (Raul de Sousa, J.T. Meirelles, Paulo Moura, Maciel do trombone, Eumir Deodato….).
Escute a clássica “Garota de Ipanema” na versão do Trio 3D em 1964, quando Antonio Adolfo pilotava o piano aos 16 anos de idade.
Escute “Berimbau” com o Trio 3D, gravação de 1964.
Trio 3D - Berimbau
3. Como se deu a transição, em 67, do Trio (instrumental) para o Conjunto 3D (vocal) ? O que provocou esta mudança na linha, ou seja, no formato do teu trabalho?

Acho que foi influência do Sergio Mendes, que fazia muito sucesso nos EUA. Aquele som me influenciou tambem – o proprio Sergio, que comecou no Beco, com Hot Trio, depois, em 1969, veio a gravar Sa Marina - . Então, ampliamos o trio, colocando o genial Helio Delmiro na guitarra e mais - veja só - o cantor Eduardo Conde e a cantora Beth Carvalho. No baixo, Manoel Gusmao e na bateria, Nelson Serra, que ja vinha comigo da formação original do 3D.
Escute “A Roda” (Gilberto Gil) com o Conjunto 3D, 1968.
Foi a própria Beth quem nos apresentou. Nessa época, nós (eu, Beth, Tibério, Paulinho Tápajos, Danilo Caymmi e muitos outros…., que iam pintando, como até o Marcos e o Paulo Sergio Valle…) formamos um grupo que se reunia para tocar nas casas e comeoçavamos a participar dos Festivais. Nós ficamos orfãos da Bossa Nova, que acolhia quase todos os seus representantes mundo afora e, então, criamos esse grupo. E consegui-se bastante exito. Uns chamavam-nos de grupo da Toada Moderna. E daí surgiram 3 toadas, que considero realmente representantes e originadas nessas reuniões: “Viola enluarada”, “Sá Marina” e “Andança”…. E daí também surgiu a Brazuca, para interpretar nossas canções.
5. Como foi o processo de criação de musicas como “Sá Marina”, “BR-3”?
“Sá Marina”, era uma toada, minha e do Tiberio, que mostrei ao Simonal, quando ele estava no maior sucesso, com programa na TV Record e tudo o mais… No mesmo dia que mostrei a musica a ele, em SP, cantou, à noite, no programa e resolveu gravar. Apesar de ter sido o lado B do compacto simples fez o maior sucesso.
BR-3, musicalmente, veio influenciada por um outro sucesso nosso, de trilha de novela: “Teletema”. Fiz uma primeira parte com andamento parecido, em compasso ternário, e enquanto isso, o Tibério pesquisava na noite carioca um cantor para interpretá-la. A gente queria ganhar o Festival. E descobriu o Toni Tonado. Eu o conhecia como Toni Checker, fazendo mímica do Chubby Checker no programa do Jair de Taumaturgo, na TV. E aí fizemos aquele arranjo para a segunda parte em 4/4, meio soul music, , onde o Toni poderia mostrar a sua dança, dando um show em pleno V FIC, no Maracanazinho.
BR-3, musicalmente, veio influenciada por um outro sucesso nosso, de trilha de novela: “Teletema”. Fiz uma primeira parte com andamento parecido, em compasso ternário, e enquanto isso, o Tibério pesquisava na noite carioca um cantor para interpretá-la. A gente queria ganhar o Festival. E descobriu o Toni Tonado. Eu o conhecia como Toni Checker, fazendo mímica do Chubby Checker no programa do Jair de Taumaturgo, na TV. E aí fizemos aquele arranjo para a segunda parte em 4/4, meio soul music, , onde o Toni poderia mostrar a sua dança, dando um show em pleno V FIC, no Maracanazinho.
Escute “Sá Marina” (Antonio Adolfo/Tiberio Gaspar) com Wilson Simonal.
Escute “Br-3” (Antonio Adolfo/Tibério Gaspar) com Toni Tornado
6. Quando olho para os vídeos dos Festivais dos anos 60/70, dos quais voce participou, eu sinto que havia um grande excitamento entre o público e os artistas. Como foi esta experiência para voce?
Foi muto emocionante. O publico consagrou “Juliana”, também nossa parceria, em 1969 e “BR3”, em 70. Entrar no palco, tocar a introdução ao piano, e aí ouvir todo mundo cantando com você do início aos fim é muito emocionante mesmo.

7. Há um episódio do qual você certa vez foi expulso de um avião em 1970, no Rio de Janeiro. Isto de fato aconteceu? Porque?
Não chegou a ser de dentro do avião, mas das ala de embarque, porque a minha figura de barba e cabelos compridos e mais uma jaqueta azul e vermelha, que eu usava, que comprei em Berkley (CA). que tinha umas estrelinhas bordadas e que podiam parecer com a bandeira de varios países, deve ter incomodado um cara do governo que tomou o mesmo avião que eu iria tomar, e impediram que viajasse naquele vôo. Mas na verdade, só fiquei preso ate o avião em que ia embarcar saiu. Voltei pra casa e embarquei no dia seguinte, sem problemas. Mas foi muito desagradável. Naquela época aconteciam coisas muito estranhas e absurdas.

O Vitor, nosso grande amigo e que era o baterista da Brazuca, saiu do grupo para acompanhar o Simonal numa viagem ao Mexico, durante a Copa de 70 e, por conseguinte, convidamos um outro baterista, o Paulinho Braga, pra integrar a Brazuca. Mais tarde, logo depois da volta da Copa , o Vitor saiu do grupo do Simonal, mas continuamos grandes amigos. Pouco depois, ele faleceu, de enfarte, em casa. Muito estranho... Ficamos, todos do grupo, extremamente chocados e resolvemos dedicar uma composição minha com o Tibério a ele, Victor. Uma grande perda a morte do Victor, que era uma pessoa muito alegre, vibrante, querida.
A apresentação da musica, cantada pelo cantor que integrava a Brazuca, Luiz Keller, emocionou todo o Maracanãzinho durante o show extra do Festival e até hoje muita gente comenta sobre a musica e sobre o Victor tambem. Saudades do musico e grande amigo Victor Manga.
Escute “Tributo A Victor Manga” (Antonio Adolfo/Tiberio Gaspar) com A Brazuka.
A Brazuka - Tributo a Victor Manga
9. Porque o Brazuka terminou? Que fatores ocasionaram o fim da banda?
9. Porque o Brazuka terminou? Que fatores ocasionaram o fim da banda?
Um dos motivos era eu queria viajar pro exterior e mostrar minhas musicas. Também não suportava mais aquele momento de censura, que vinha de todos os lados e que se instalou no Brasil. Enfim era hora de acabar o grupo. E parti com a Ana Luiza pro Exterior, onde estudei, fiz novas musicas e acabou que minha carreira musical foi tomando uma caraceristica mais voltada à música instrumental, apesar de nunca ter deixado de compor canções com outros parceiros. Com o Tibério, voltei a compor muito recentemente para um disco que fiz para o mercado internacional, por um sêlo ingles (FarOut). Continuamos amigos e falamos muito um com o outro.
10. Quantos anos voce viveu na França, e porque voce seguiu para lá em 74?

Um ano e meio, creio. Segui pra França, Paris, pois lá era talvez o maior reduto da macrobiotica e resolvi estudar com uma das melhores e mais respeitadas professoras de música, Nadia Boulanger. Nessa época eu e a Ana estavamos diretos na macrobiotica, bem magrinhos. E aquilo me fazia me sentir bem. E lá em Paris encomendamos a Carol (1ª. filha do casal). Ficamos um ano e meio e voltamos para o Rio, onde continuei estudando e praticamente começando tudo de novo na carreira musical, deta vez sob prisma diferente.
11. . Antonio Adolfo há quanto tempo você e a Ana estão juntos? Qual é a receita para um casamento durável como o seu?
Desde 1974, quando fomos morar em Paris. A gente já se namorava há um ano. Claro que não tenho receita, mas acho que a gente tem que ter amor e tolerância, saber aguentar momentos difíceis, compartilhar e tem que ter muitas coisas em comum. A vida não é facil..., caro Paul. O amor é estar juntos, de verdade. As vezes as pessoas, moram juntas, são casadas, mas estão isoladas. Conseguir a tal sintonia é o melhor.
12. Em 77 quando da gravação do “Feito em Casa” o que fez você optar pela produção independente? Que consequências este fato teve na sua carreira?
Nesse momento, com o fechamento da Kuarup, que distribuia meus discos para as lojas, esstou com distribuição somente digital, em vários sites da Internet. Mas pode-se obter informação sobre downloads no meu site: www.antonioadolfo.com/
Escute “Feito em Casa” (Antonio Adolfo) , Antonio Adolfo.
Escute "Cascavel"(Antonio Adolfo) do album "Viralata"
13. Você já tocou com quase toda a nata da Musica Popular Brasileira e com grandes feras do jazz norte americano. Mas há um fato pouco divulgado que é o de voce ter tocado com os Rollings Stones. Eu gostaria de saber quando, como e onde se deu esta história?
Na verdade foi com o Mick jagger e não com o grupo. Fui selecionado, com outros músicos para fazer a gravação de uma musica, do Mick, - acho que em janeiro de 1974, - tá na biografia dos Rollin Stones (http://www.nzentgraf.de/books/tcw/1976.htm) Não me lembro bem se a música , “Scarlet” foi lançada pelo grupo. Adorei a experiência. O Mick Jagger é uma pessoa muito doce, o contrário da imagem que tinha dele. A gravação rolou num clima muito tranquilo e ele extremamente simpático, tocou guitarra e cantou. Ao final, ficamos batendo um longo papo no estúdio.

Foram três grandes pesquisas. Adoro a obra desses grandes compositores brasileiros. Para mim, Nazareth, juntamente com Pixinguinha e Tom Jobim, formam o trio dos maiores compositores de música brasileirade todos os tempos, Não estou falando dos letristas, que temos vários (Chico, Caetano, Aldir, etc..)
O único problema quando a gente grava música desse pessoal que já morreu é lidar com os pesquisadores, que dificultam o acesso a obra, pois têm suas predileções e se tornam verdadeiros “apaixonados” se sentindo meio como donos da obra – uma coisa muito estranha. As vezes, dificultam muito mesmo. Não vou comentar muito sobre o que tive que enfrentar, em respeito até mesmo aos grandes compositores que sao Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga. Adorei gravar músicas deles e até hoje, sempre incluo-as no meur repertório. E teve também o disco que fiz, pela Funarte, em homenagem ao João Pernambuco, mas aí foi mais facil, pis a Funarte estava na jogada.
O único problema quando a gente grava música desse pessoal que já morreu é lidar com os pesquisadores, que dificultam o acesso a obra, pois têm suas predileções e se tornam verdadeiros “apaixonados” se sentindo meio como donos da obra – uma coisa muito estranha. As vezes, dificultam muito mesmo. Não vou comentar muito sobre o que tive que enfrentar, em respeito até mesmo aos grandes compositores que sao Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga. Adorei gravar músicas deles e até hoje, sempre incluo-as no meur repertório. E teve também o disco que fiz, pela Funarte, em homenagem ao João Pernambuco, mas aí foi mais facil, pis a Funarte estava na jogada.
Escute “Lua Branca”(Chiquinha Gonzaga), Antonio Adolfo.
Escute “Beija-Flor” (Ernesto Nazareth), Antonio Adolfo

Eu tinha gravado os “basic tracks” no Rio, com o Ivan Conti, grande baterista, e viajei para a Flórida. Já conhecia o Cláudio e o Gabriel há um ano antes do disco. Costumava ir assisti-los tocar no MoJAzz Café na 71st St, em Miami Beach. Ficamos amigos e soube que o Cláudio tinha um estúdio em casa. Resolvi combinar com ele pra colocar o violão nas faixas pré-gravadas e aí faltava o baixo. O Gabriel ainda não tocava acústico, mas a partir do convite ele fez o milagre de aprender a tocar baixo acústico em poucos dias e gravou muito bem sua participação. O disco foi premiado pelo prêmio Sharp 1998.
16. O Erasmo Carlos em 76 no LP “Banda dos Contentes”, gravou a música "Dia de Paz" que é de sua autoria em parceria com Jorge Mautner. Vocês dois produziram algo juntos, quando foi isto?
Pois é eu gravei dois discos com o Erasmo: “Banda dos contentes” e “Pelas esquinas de Ipanema”. Nos dois discos ele gravou canções minhas. O Erasmo, que está lancando novo disco (“Rock’n’Roll”) esta semana, é uma pessoa belissima, um ser humano maravilhoso e um grande artista.
A parceria com o Mautner, que data de 1976, inclui esta canção e mais 12 canções inéditas que algum dia pretendo ainda gravar. Há uns quatro anos, ele me procurou lána escola do Rio, com a fita cassete que continha as músicas e , então, retomamos os trabalhos: concluímos algumas músicas, mexemos em outras e só faltou levar o projeto adiante para um possível disco. O Mautner e eu somos muito ocupados e ambos estamos envolvidos em muitos projetos. Quem sabe, a gente não leva isso a frente e grava um CD??
Escute “Dia de Paz” (Antonio Adolfo/Jorge Mautner) com Erasmo Carlos
17. Você faz parte de uma geração de grandes pianistas, (Wagner Tiso, Cesar Camargo Mariano, etc). Você vê hoje no Brasil uma continuidade da produção de vocês, tanto como instrumentista, tanto como compositores de musica instrumental?Há muita gente nova e boa (excelente) no Brasil fazendo musica instrumental. Conheço alguns e admiro muito o que estão fazendo. A música instrumental tem momentos que desaparece por qualquer razão, mas sempre volta. Já foi muito popular em um ou outro momento, mas é a expressão maior dos musicos instrumentistas.
18. Recentemente eu estive em sua escola e vi seus alunos (adultos e crianças) se apresentando. Percebi o contentamento deles e o seu. Conte-nos um pouco sobre este seu lado professor.Essa, juntamente com a atividade de compor, arranjar e tocar, é uma das minhas paixões em musica. Já escrevi varios livros, dei aulas em vários escolas e países. Temos uma escola no Brasil há 25 anos. Na verdade, dou aulas de musica, desde que voltei da França, em 1975 ( 35 anos…?). Gosto muito e, no momento, tenho me dedicado quase que “ full time” a essa atividade. Isso não quer dizer que num outro momento, possa dar menos aulas e voltar a atuar mais tocando, arranjando ou compondo. Vou tocando o barco e tocando… E navegando nesse meu grande culto, que é a música.

Para encerrar, navegue com Antonio Adolfo em sua “As Luzes Estão Brilhando” (Antonio Adolfo)
3 comentários:
Que entrevista interessante. Gostei de várias informações contidas nela.
O trabalho do Antonio Adolfo é realemente muito bonito e importante pra musica do Brasil.
Gostei demais desta ultima musica.
Abs.
Ricardo
Cara! O tributo ao Victor Manga é chapante! Nem precisa comentar!!!
É isso ai!
Carlos Leal
Querido Paul
Parabens pelo seu blog cheio de coisas tao boas.
Sempre um prazer enorme ouvir o Antonio Adolfo e conhecer mais a trajetoria deste grande artista e mestre querido que nos presenteia com tantas emocoes.
Beijo,
Eleonora Goretkin
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