O MODERNO LEMBRANDO O PASSADO
Parte 02
Em 1971 no meio do turbilhão musical de rocks, toadas e experimentalismos; ainda, o mercado fonografico tinha um representativo segmento voltado a musicos mais tradicionais que estavam no meio ou no fim de carreira.
De fato, seguindo o movimento das ondas, de tudo, que vive entre o fluxo e o refluxo.
Leia e escute sobre alguns albuns , muito interessantes,lancados em 71 e que seguiam esta tendência.
“JOÃO GILBERTO EN MÉXICO” (1971)
Joao Gilberto, (1931), cantor e violinista baiano que introduziu os acordes da Bossa Nova e foi um dos que revolucionou a musica brasileira em 1959 com esta “batida”.
O sucesso do baiano que chegou ao Rio em 1952 e passou por varios conjuntos vocais da epoca foi repentino e “Chega de Saudade”, seu primeiro disco, ganhou o Brasil e o mundo.
Depois de gravar mais dois albuns no Brasil em 62 João Gilberto inicia uma perigrinação pelo mundo, que penso, até hoje não parou. Porém o que ele angariou neste primeiro periodo de sua peregrinação pelo mundo (anos 60) foi a consolidação da Bossa Nova no planeta; realizar gravações históricas como a que fez com Stan Getz em 63 e 66.
Em 1970, João Gilberto deu um concerto na cidade do México e a Odeon o lançou em 1971 com o titulo “João Gilberto en Mexico”.
No disco, João Gilberto estava fazendo o que melhor sabe; ser ele mesmo: João Gilberto.
O interprete da dor, da flor e do amor.
Escute “Esperança Perdida”(Billy Blanco/Tom Jobim) com João Gilberto
Joao Gilberto - Esperanca Perdida
Escute o clássico mexicano “Besame Mucho” (Conzuelo Velásquez) com João Gilberto.
“MÁRIO REIS” (1971)
Mário Reis (1907-1981) era um popular cantor de samba nos anos 30, conhecido como o Bacharel do Samba pelo fato de ser advogado tambem. Ele se formou na mesma turma que o compositor Ari Barroso com quem teve amizade duradoura. Em 1933 fez sucesso cantando “Alô,Alô” (André Filho) com Carmem Miranda e até1936 fez outros mais quando decidiu interromper sua carreira para atuar como advogado. Porém ele voltou em 1939 a cantar, a pedido de Dona Dercy Vargas (esposa do então presidente Getulio Vargas) no espetáculo “Jojoux e Balagandãs” de Lamartine Babo onde fez muito sucesso cantando as canções deste compositor.
Mario Reis foi uma pessoa muito querida no seu tempo mesmo tempo um temperamento arredio, pois detestava ser fotografado ou de aparecer em publico. Com sua voz mansa e suave e que atravasa ou acelerava os compassos; ele gravou canções marcantes, principalmente nos anos 30 e 40, e foi, como disse João Gilberto, uma de suas maiores influências.
Em 1961 ele passou a viver no Copacabana Palace Hotel, onde viveu o resto de sua vida. Em 1971 ele gravou o seu ultimo disco que incluia regravações de antigos sucessos e um musica contemporânea “A Banda” (Chico Buarque de Holanda). De fato Mario Reis chegou a gravar outra musica de Chico Buarque “Bolsa dos Amores” mas a censura vetou a sua gravação.
Escute “Cansei” (Sinhô) com Mário Reis.
Escute “A Banda” (Chico Buarque) com Mário Reis.
“O CANTO JOVEM DE LUIZ GONZAGA” (1971)
Luiz Gonzaga (1912-1989) foi o grande divulgador da música nordestina na primeira metado do século XX no Brasil. Nascido em Exu no sertão pernambucano, era filho de um famoso tocador de sanfona, o Sr. Januário, que lhe ensinou desde pequeno a tocar o instrumento e com o qual ainda nos primeiros anos da adolescencia começou a animar bailes e festas da região onde vivia. Saiu de sua casa com 18 para servir o exército em Minas Gerais, onde ficou popular por tocar sua sanfona. Em 1939 chegou ao Rio onde passou a tocar na noite e em programas de rádio. Porém seu repertório era samba e fox. Somente em 1942 que durante uma apresentação num cassino, um grupo de estudantes pernambucanos lhe solicitou que tocasse algo da “terra”. Gonzaga começou a tocar um xaxado,depois um forró, e depois um forró; e diante de tanto sucesso não parou mais. Sua carreira se tornou meteórica, tocando seus baiões na Radio Nacional e gravando discos.
Neste periodo Luiz Gonzaga conheceu o advogado baiano Humberto Teixeira e juntos fizeram histórias compondo vários sucessos com ritmos nordestinos e a mega clássica “Asa Branca”.
Em 1971 com 59 anos de idade e centenas de discos gravados; Luiz Gonzaga grava “O Canto Jovem de Luiz Gonzaga” onde ele abandona a vestimenta de cangaceiro e se apresenta com um visual mais urbano e grava o que o titulo pretende, a modernidade de então: Antonio Carlos e Jocafi, Vinicius de Morais, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nelson Motta, Geraldo Vandré, Edu Lobo e Capinam. Regrava “Asa Branca” repartindo os vocais com seu filho Gonzaguinha que estava no inicio de sua carreira.
Escute “Cirandeiro” (Edu Lobo/Capinam) com Luiz Gonzaga
Escute “Asa Branca”(Luiz Gonzaga/Humberto Texeira) com Luiz Gonzaga e Gonzaguinha.
Luiz Gonzaga e Gonzaguinha - Asa Branca
“LUZ E PENUMBRA” (1971)
Dick Farney (1921-1987) cantor, pianista e compositor do Rio de Janeiro. Dick foi batizado com o nome de Farnésio Druta e Silva e no inicio de sua carreira como pianista mudou para o Dick Farney , assim como seu irmão Cilênio Dutra foi o ator Cyll Farney.
Dick Farney começou sua carreira nos Cassinos da Urca primeiro como pianista e depois como cantor alcançou bastante sucesso e notoridade. Em 1948 foi convidado a tocar nos Estados Unidos onde chegou a gravar. Nos anos 50, de volta ao Brasil e teve programas de TV na Record e na TV Globo.
Sua voz marcante e pausada foi uma marca registrada e junto com outros cantores deste estilo foram de grande influência a Bossa Nova.
Não era a toa que um dos primeiros nucleos da Bossa Nova se chamava Fa Clube Sinatra-Farney.
Em 1971 depois de 03 décadas inenterruptas gravando discos ele lança “Penumbra e Romance” onde grava em Trio (piano/baixo/bateria) uma coletânea de grandes canções de Caymmi, Tom Jobim, Billy Blanco, João de Barro e duas canções americanas dando todo um clima sofisticado e cadenciado por seu piano e voz macia.
Escute “Marina”(Dorival Caymmi) com Dick Farney
Escute regravação do clássico de 57: “Tereza da Praia” feita pelos mesmos interpretes em 1971 ; Dick Farney e Lucio Alves:
Dick Farney e Lucio Alves - Teresa da Praia
“ARREBENTAÇÃO” (1971)
Sérgio Ricardo, musico/cineasta/pintor, este paulista de Marilia, descendente de libaneses, na infancia estudou piano e teoria musical no Conservatorio Musical de Marilia. Mudou-se para Sao Paulo nos anos 40 onde trabalhou como locutor de radio. Em 52 foi para o Rio onde começou a tocar piano na noite e conheceu Tom Jobim; tomando parte do grupo inicial que fazia Bossa Nova. Nos anos 60 se envolveu com a ala politica da bossa e ao mesmo tempo passou a se dedicar a fazer curta metragens.
Em 1971 ele já havia lançado desde 57, seis compactos e 11 Lps; havia também feito a trilha para cinco filmes como os classicos “Terra em Transe” e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” , de Glauber Rocha. Alem disso, tinha lançado dois curta e dois longa metragens (“Esse Mundo É Meu”/”Julina do Amor Perdido”).
Ainda, o estigma de temperamental o perseguia desde que em 62, durante a apresentação de sua musica “Beto Bom de Bola” no Festival de Cancao da Record; quando o publico começou a vaia-lo ele nervosamente atirou seu violão no chão espatifando-o.
“Arrebentação” é um disco de meio de carreira de Sergio Ricardo, muito conectado com o regionalismo, fez um disco bastante tranquilo e limpido; com arranjos simples, seu violao, uma flauta e sua voz marcante e instigante.
Escute “Mundo Velho Sem Porteira” (Sergio Ricardo)
Sergio Ricardo - Mundo Velho Sem Porteira
Escute “Jogo de Dados” (Sergio Ricardo)
Sergio Ricardo - Jogo de Dados
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