19/02/2010

Tetê Espíndola

A CANTORA DAS ESTRELAS


Tetê Espíndola é uma cantora extraordinária. Dona de uma voz envolvente e elástica, que alcança com extrema facilidade tons agudos e mantém-se neles com naturalidade; e ainda, volta repousando graciosamente em tons mais graves.
Sua voz lírica, inicialmente, ela emprestou ao canto regional, da musica pantaneira de seu Mato Grosso.
Foi no seio de sua família que Tetê encontrou seus primeiros parceiros musicais, sua irmã Alzira e seus irmãos Geraldo e Celito. Juntos formaram o “Lírio Selvagem”. O Lírio, no final dos anos 70, como shows e o disco “Tetê e o Lírio Selvagem” (1978) fez o talento de Tetê e de seus irmãos serem conhecidos pelo resto do Brasil. Mas foi em São Paulo onde Tetê obteve maior ressonância. Lá ela iniciou sua carreira solo, gravou seu primeiro disco solo (“Piraretã” /1980), se associou com a Banda Sabor de Veneno, de Arrigo Barnabé e gravou o clássico álbum “Clara Crocodilo” (1981/Arrigo Barnabé e a Banda Sabor de Veneno).
Foi com “Pássaros da Garganta” (1982), um disco marcante, do período dos Discos Independentes em São Paulo, nos anos 80; que a música de Tetê ganhou maior projeção nacional. Neste período ela ganhou o Festival dos Festivais /TV Globo , 1985, com “Escrito nas Estrelas”( Carlos Rennó e Arnaldo Black)
Assim como seu canto, sua tendência musical também se fez elástica fazendo dela uma cantora que canta o regional, o pop e que se associa ao experimentalismo e a pesquisa.
Tetê canta um clássico sertanejo como “Sertaneja” (Rene Bittencourt), a musica do Xingu ou a música polidiomática e polionomatopética do francês Philippe Kadosh com o mesmo envolvimento passional.
Este caráter contemporâneo na obra de Tetê, com dezoito álbuns gravados, faz dela uma cantora especial, dona de um brilho intenso, singular e vibrante no cenário da musica brasileira.
Leia a pequena entrevista que fiz com a cantora neste último janeiro e escute algumas de suas canções.



Quando e como você começou a cantar?
- COMECEI A CANTAR DENTRO DA BARRIGA DA MINHA MÃE ALBA ,ELA SEMPRE CONTAVA ISSO , NASCI DE 10 MESES.DESDE PEQUENA FAZIA UM SOM CONSTANTE TIPO UMA NOTA SÓ AGUDA E TINHA O APELIDO DE DISQUINHO...CANTAR MESMO SÓ A PARTIR DOS 8 ANOS.

“Cuiabá”(Tetê Espíndola/Carlos Rennó)


Quando te vi cantar pela primeira vez, alėm da apreciação me veio a pergunta : como ela consegue? Você ė uma cantora que consegue alcançar tons agudos e afinados e manter-se neles por um tempo que poucos conseguem. Esta condição por exemplo, fez com que o poeta Augusto de Campos comentasse que você tem “pássaros na garganta”.
Eu repito a pergunta: como voce consegue isto?
ISSO PRA MIM É TÃO NATURAL. MAS É CLARO QUE COM O TEMPO A GENTE VAI LAPIDANDO A TECNICA .UMA COISA IMPORTANTE É O CONTROLE DO AR E A EMISSÃO DA VOZ .TENHO PRATICADO MEUS EXERCICIOS COM O CANTO DOS PASSAROS.

Ainda sobre sua voz. Você já passou por alguma dificuldades vocais? Que cuidados você tem que tomar em relação a sua voz, TT?
É CLARO QUE QUANDO SE PEGA UMA SINUSITE É COMPLICADO POIS A GENTE FICA AFÔNICA É UM HORROR.MAS EU ME CUIDO BASTANTE PRA QUE A MINHA RESISTENCIA NÃO CAIA ME ALIMENTO BEM TOMO PROPOLIS E MUITA AGUA E FAÇO ALONGAMENTOS ...

Você transita com muita facilidade entre o tradicional e o que ė de vanguarda/experimental, como este processo se dá em você?
JÁ FAZ PARTE DA MINHA PERSONALIDADE, PRA EU ME SENTIR INTEIRA TENHO QUE AGITAR OS DOIS LADOS DA MINHA MUSICA QUE SEMPRE FOI A RAIZ E O EXPERIMENTALISMO.

Como foi a viagem do “Lirio Selvagem”?
AS COMPOSIÇÕES ESPECIAS DO GERALDO ERAM AS MINHAS PREFERIDAS TINHAMOS UM VOCAL DE SANGUE QUE ERA SÓ ABRIR A BOCA E JÁ ESTAVA TUDO NO LUGAR EU SEMPRE NA OITAVA . Foi um difícil começo? COMO GRUPO FOI DIFICIL POIS NÃO TINHAMOS AINDA UMA ESTRUTURA EM SP PRA SEGURAR A “BARRA” E A ARTE DE CADA UM QUE ESTAVA BROTANDO COM MUITA FORÇA.

“Bem-Ti-Vi”(Geraldo Espindola) Lirio Selvagem (1978)


Ter trabalhado com seus irmãos teve um significado especial?
SIM APRENDI A REPARTIR O TALENTO E SUCESSO POIS SOMOS UMA FAMILIA MUITO UNIDA

Houve nesta formação familiar alguma influência ancestral?
DE UM LADO A MUSICA CLASSICA PELAS MÃOS DOS MEUS TIOS TRIGEMEOS NO PIANO ,O GOSTO PELO CANTAR DA MINHA MÃE E DO OUTRO O GOSTO PELO VIOLÃO E RITMOS PARAGUAIOS E PANTANEIROS.

Técnica ou emoção, o que te canta mais alto?
MUITA EMOÇÃO MAS UM POUCO DE TECNICA SEMPRE AJUDA

“Cio da Terra”(Milton Nascimento/Chico Buarque)(Piraretã/1980)


Quem vc considera a sua maior influência? Teve alguma cantora que para vc é uma importante referência?
ELIS COMO CANTORA ERA SEMPRE UM APRENDIZADO SINTO MUITA FALTA DELA.

TT, vc surgiu num período peculiar e bastante criativo da canção brasileira,
durante os 70; e que se manteve dentro de um processo de produção independente.
Como foi sua experiencia no inicio dos anos 80 (Vanguarda Paulista)
como foi pra vc este periodo, esta coisa da produção independente,
da qualidade musical x gravadora.....
EU VINHA DA EXPERIENCIA COM GRAVADORAS MULTINACIONAIS NO FIM DO ANOS 70. GRAVEI “TETÊ E O LIRIO SELVAGEM” E “PIRARETÔ. FOI BOM , MAS QUERIA DOMINAR O CONTEÚDO, OS ARRANJOS ,EXERCER MINHA VISÃO ARTISTICA. A INDUSTRIA CLARO SEMPRE TINHA UMA VISÃO MAIS COMERCIAL. ENTÃO TIVEMOS ESSE IMPORTANTE MOVIMENTO CULTURAL EM SÃO
PAULO, CONHECIDO POR MUITOS COMO , MÚSICA INDEPENDENTE OU DE VANGUARDA. O LIRA PAULISTANA, CASA DE ESPETÁCULOS “CULT” E DE MÚSICA ALTERNATIVA DA ÉPOCA,FOI UM ELEMENTO IMPORTANTE QUE AGIU COMO FORÇA AGREGADORA E INCENTIVADORA DA NOSSA GERAÇÃO. OS INDEPENDENTES, FOMOS ASSIM CHAMADOS, PORQUE HAVIA UM RECONHECIMENTO IMPLÍCITO DA CRÍTICA ESPECIALIZADA, DE QUE AQUELA MINHA GERAÇÃO DE ARTISTAS BUSCAVA MODELOS ALTERNATIVOS PARA REALIZAR SEUS DISCOS, RESPEITANDO ACIMA DE TUDO A VONTADE DE INOVAR E TRILHAR NOVOS CAMINHOS MUSICAIS. ESSAS EXPERIÊNCIAS RENOVADORAS QUE NÃO ENCONTRAVAM ESPAÇO NA RÍGIDA ESTRUTURA COMERCIAL DA INDÚSTRIA FONOGRÁFICA. ENTÃO COM MUITA AJUDA, COM FORÇA DE VONTADE E GARRA, GRAVÁVAMOS NOSSOS DISCOS: ASSIM FOI COM PASSAROS NA GARGANTA E MUITOS OUTROS QUE VIERAM EM SEGUIDA. MUITA GENTE CONSEGUIU COM ISSO “ BOTAR O BLOCO NA RUA”

“Longos Prazeres de Amor”(Celito Espindola) (Pássaros na Garganta/1982)


Como vc vê o panorama da musica brasileira produzida hoje?
ESTOU PRESENCIANDO UM NOVO MOMENTO NA MUSICA BRASILEIRA GRAÇAS AO MEU FILHO DANI BLACK COMPOSITOR INTRUMENTISTA E CANTOR,QUE FOI O VENCEDOR DO FESTIVAL DE AVARÉ DE 2009. CONVIVO COM TODA A SAFRA DE NOVOS COMPOSITORES E INTERPRETES ATUAIS QUE FAZEM PARTE DESSA GERAÇÃO QUE ESTÁ EM PLENA FLORAÇÃO.PRA CITAR ALGUNS, ADORO PEDRO ALTÉRIO,TÓ BLANDINEONE,VINICIUS CALDERONI,TATIANA PARRA E DANI GURGEL.
E DOS CONSAGRADOS AINDA ACHO O LENINE O MAIS INTERESSANTE COMO CRIADOR.

Como foi que se deu seu envolvimento com o trabalho de Arrigo Barnabé, e o que você pode nos dizer de seus dois discos feitos com Philippe Kadosch? O “VOZVOIXVOICE”(2001) e o recente “BABELEYES” (2009)?
TER ME ENVOLVIDO COM A MUSICA DE ARRIGO FOI UMA EXPERIENCIA FUNDAMENTAL PRA MINHA CRIAÇÃO ISSO FOI EM 1980 QUANDO ELE ME CHAMOU PRA FAZER UMA PARTICIPAÇÃO NA BANDA SABOR DE VENENO E DEPOIS VEIO O MP SHELL QUE ETERNIZOU LONDRINA NO MEU REPERTORIO.

“Diversões Eletrônicas”(Arrigo Barnabé/Regina Porto) (Clara Crocodilo/1980)
Voz Masculina : Arrigo Barnabé, Vocais femininos : Tête Espindola, Vânia Bastos e Suzana Salles.


FOI O ARRIGO QUEM ME APRESENTOU KADOSCH, ISSO FOI EM 1990 E PROPUS PRO KADOSCH EM FAZER UM TRABALHO SÓ COM A MINHA VOZ EM 1998 E ELE MUITO TALENTOSO FEZ ACONTECER O VVV .FIZEMOS MUITOS SHOWS NA EUROPA. ESSE CD AINDA É O MEU PREFERIDO, UMA EXPERIêNCIA MARAVILHOSA. “BABELEYES” JÁ FOI UMA PROPOSTA DELE E EU ACEITEI E FOI UM DESAFIO QUE VALEU A PENA POIS O SHOW FOI LINDO EU CRESCI MUITO COMO INTERPRETE. ESTAMOS LOUCOS PRA FAZE-LO DE NOVO,SÓ QUE DIFICULTA UM POUCO MORARMOS EM PAISES TÃO DISTANTES...

Tetê canta Phillipe Kadosh (Babeleyes/2009)




Seu trabalho com sua irmã Alzira E , o “Anahí”, remete as Irmãs Galvão e vcs juntas obtem uma sonoridade vocal forte e expressiva. É uma experiência que vcs pretendem repetir? Aliás, qual foi a receita de seus pais em terem duas filhas que cantam tão bem? NA VERDADE ESSE TRABALHO FOI INSPIRADO NUMA DUPLA MAIS ANTIGONA “CASCATINHA E INHANA”QUE NA EPOCA FOI A NOSSA REFERENCIA.AS NOSSAS BRINCADEIRAS DE CRIANÇA A NOSSA INSPIRAÇÃO E O FATO DE CADA UMA TER UMA VOZ TÃO OPOSTA QUE SE COMPLETAM É A NOSSA CURTIÇÃO ALÉM DE UMA PROFUNDA ADMIRAÇÃO MUTUA.


“Galopeira”( Maurício Zayas, Cardoso O. Campo Versão: Pedro Bento) (Anahí/1998) Alzira e Tête Espindola.


MEUS PAIS USARAM A MESMA RECEITA MISTERIOSA PRA PRODUZIR TAMBEM MAIS CINCO VOZES MASCULINAS QUE SÃO NOSSOS MANOS ,HUMBERTO SERGIO GERALDO CELITO E JERRY, BASTA OUVIR O CD ESPINDOLA CANTA. DE ALGUMA FORMA ESTOU DANDO CONTINUIDADE A PARCERIA COM ALZIRA NO SHOW “MUSICA PANTANEIRA”DEEM UMA OLHADA NOS VIDEOS DO YOUTUBE QUE TAMBEM TEM JERRY LUCINA E UMA SUPER BANDA.

http://www.youtube.com/watch?v=hCI9c9NvDpA
http://www.youtube.com/watch?v=Q4zf3pIEMns
http://www.youtube.com/watch?v=1kCbcGJCZ1I
http://www.youtube.com/watch?v=mH2atbHomBU

Teu trabalho tem uma referência ecológica em vários momentos. Eu gostaria de saber se você realmente tem uma preocupação ambiental e que questão ambiental mais lhe concerne?
ADORO A NATUREZA COMO UM TODO, DO MACRO AO MICRO. ACHO QUE NOSSO PLANETA ESTÁ SE REBELANDO POR ESSE MALTRATO QUE NÓS OS “CIVILIZADOS” TEMOS PROPORCIONADO DURANTE MUITO TEMPO.
ME PREOCUPA “O AGORA EM DIANTE” POIS TENHO FILHOS E PRETENDO TER NETOS. POR ISSO USO O MEU AGUDO PRA ME REBELAR E ABRIR OS OUVIDOS DE QUEM FOR. MAS QUE SEJA EM PROL DA RESERVA NATURAL DO PLANETA.

“Na Chapada”(Tetê Espíndola/Carlos Rennó)(Canção do Amor/1996)


Quais são seus projetos para 2010? Novo disco a vista?
TENHO SIM UM PROJETO DAS MINHAS COMPOSIÇÕES NA CRAVIOLA EM PARCERIA COM MINHA AMIGA QUERIDA MARTA CATUNDA .CHEGOU A HORA DE MOSTRAR A NOSSA IDEIA COMO UM TODO. MAS PARALELO A ESSE PROJETO TÃO INTIMO PRETENDO DAR CONTINUIDADE PRO SHOW MUSICA PANTANEIRA E A EXPEDIÇÃO AGUA DOS MATOS QUE SE PREOCUPA MUITO COM O COMUNITARIO E É CLARO AO BABELEYES E SUAS LINGUAS VIRGENS.

“Relógio da Paulista”(Passoca/Guga Domenico) (Só Tête/1994)



TT, para finalizar: o que está escrito nas estrelas?
A MINHA ETERNA VONTADE DE CANTAR CADA VEZ MAIS,SEM FRONTEIRAS .

Tête na final do Festival dos Festivais (1985)


6 comentários:

pituco disse...

grande,paul,

curioso que sou fã-nático por elis, desde o adolescente, e em uma das últimas entrevistas da cantora, talvez 1980, pra um programa de rádio, ela cita, exatamente, a tetê spíndola...tece vários elogios, inclusive destacando essa sinceridade de seu canto com elementos do 'interior', diferencial, áquela época, cujo referencial musical do brasil, sempre foi o litoral...é uma sacada bacanuda da elis, como sempre...rs...e elis botava pra tocar 'cio da terra'...se eu encontra o áudio, mando prati, ok?

e tetê é tudo de bom...uma cantora que tem a aura de artista...uma estrela de fato...curto pacas uma interpretação dela num disco piramidal do benê fontelles, onde ela canta uma cançã com nomes de frutas silvestres...eu tinha um exemplar, pois que a capa era confeccionada artesanlamente, uma a uma...se existir, deve ainda estar entre meus guardados, aí no brasil...outra interpretação antológica é 'cunhaitaporã'...

sou amigo pessoal,parceiro acadêmico e musical do guga domênico...mas, desconhecia essa linda canção 'o relógio da paulista' parceria com o passoca.

post piramidal e emocionante...um túnel do tempo...e parece que foi ontem...hehehe

abraçsons

Paul Constantinides disse...

querido pituco
muito obrigado pelo comentário
a TT é tudo de bom mesmo.
qdo fotografei a Elis Regina foi poucos meses antes dela falecer, e no mesmo periodo assisti a um show da TT no Tuca, SP. Não pude deixar de compara-las...pois as duas tinham em comum uma exuberancia vocal impressionavel e envolvente, dominadora até.
vc amigo faz parte desta história, sinto-me prestigiado com seus comentários aqui.
abs
paul

Érico Cordeiro disse...

Grande entrevista, Paul.
Tetê - não sei se por opção ou se por contingências mercadológicas - não desfruta do reconhecimento merecido.
Uma cantora honesta em sdua arte e muito original, com coisas lindíssimas em seu repertório.
"Há um chuvisco na Chapada
Em toda mata um cochicho em cê-agá
Chuá-chuá na queda d'água..."
Valeu!!!!

Paul Constantinides disse...

Erico
a muita gente boa no mundo musical brasileiro q não desfruta o reconhecimento merecido que, nós arduos fãs da musica brasileira, consideramos q deveriam ter.
penso as vezes que é devido a excessiva influencia da musica estrangeira no país, por vezes perneciosa...sempre penso assim qdo ligo o rádio e escuto centenas de musicas estrangeiras e algumas nativas.
vai entender.
abs
paul

ps..mas uma coisa é certa, o registro destes artistas impressioanantes esta ai e vivo.

Anônimo disse...

Paul
Esta entrevista com a TT está muito boa e informativa.
Adorei as musicas que foram postadas aí, tinha algumas que eu não conhecia e agora tenho muita vontade de conhecer mais o trabalho desta cantora.
Concordo com o que o leitor Èrico disse.
Abraços
Valdir

Anônimo disse...

Paul
Esta entrevista com a TT está muito boa e informativa.
Adorei as musicas que foram postadas aí, tinha algumas que eu não conhecia e agora tenho muita vontade de conhecer mais o trabalho desta cantora.
Concordo com o que o leitor Èrico disse.
Abraços
Valdir