23/09/2010

Choro Porque Choro (03

CHORO COMPOSTO EM TORMENTA
Calado foi a centelha de inspiração do Choro que Chiquinha Gonzaga conduziu e materializou em seu piano. Ernesto Nazareth, por sua vez, foi quem abriu a torneira e deixou transbordar a totalidade melódica do Choro.

ERNESTO NAZARETH
(1863-1934)

Pianista e compositor, dono de uma alma sensivel e recatada, capaz de transpôr a musica de seu tempo demarcando o Choro. Sua obra junto com a de Chiquinha Gonzaga são os fundamentos primordiais deste gênero musical.
Oriundo de uma família pouco abastada, aprendeu a tocar piano dentro de sua casa, espontaneamente, atraído por sua mãe que dedilhava o piano, tocando Chopin, Litz e polcas (musicas populares de origem tcheca). Num tempo em que não havia radio, o piano ou o violão eram os meios usuais para se ter musica dentro de casa.
A vida de Ernesto é marcada por acidentes e alguma tragédia. Há uma deficiência auditiva no ouvido direito que lhe ocorreu a partir de hemorragia sofrida ao cair de uma arvore quando tinha dez anos de idade e ainda uma sífilis mal tratada que lhe torturaria nos últimos dias de sua existência.
Devido a facilidade e intimidade que tinha com o piano, seu pai possibilitou que ele estudasse durante a adolescência com o compositor Luiz Antonio de Almeida.
Aos 16 anos de idade explode em Nazareth seu espirito criativo. O jovem apresenta ao seu professor uma composição “Voce Bem Sabe” que imediatamente ganha a admiração do mestre que faz chegar a obra as mãos da Editora Napoleão e Miguéz (que na época editava Chiquinha Gonzaga) que imediatamente publica “a linda polca para piano, composição do distincto pianista Ernesto Julio de Nazareth”.
Neste período Ernesto chegou a publicar 29 polcas o que lhe deu certa notoriedade e respeito. Começou a tocar em saraus e reuniões e a sobreviver como pianeiro (tocador de piano em lojas de instrumentos musicais) e como professor.
O fato é que naquele período havia um pagamento módico pela aquisição da obra musical pela Editora, porém, não havia nenhum ganho, por parte do compositor, pela venda das partituras.
Conhecido por ser um homem humilde e pouco convencido do valor de sua obra, Ernesto prosseguiu um longo período criativo de sua obra que durante a mudança do século 19 para o 20 transformou-se gradativamente. Os historiadores consideram que a Polca se transformou em Tango (assim o Choro era chamado inicialmente).
Ernesto conviveu com o inicial preconceito que havia na sociedade carioca em considerar musica europeias de salão dignas e as brasileiras (os maxixes, os tangos, os lundus) produtos desqualificados.
Ainda assim, quando começou a tocar no elegante Cine Odeon, como pianeiro, em 1902 imediatamente começou a atrair um grande publico que admirava o seu estilo musical, ainda que tocasse erudito.
Um dos clássicos da obra de Nazareth “Odeon” é uma homenagem a este período de sua vida.
Um dos primeiros reconhecimentos públicos significativos da obra de Ernesto se deu na Semana da Arte Moderna de 1922 em São Paulo. Mario de Andrade considerava sua musica genial, e em vários momentos da Semana de Arte Moderna em São Paulo, se executou a musica de Ernesto divulgando-se como genuína musica brasileira. Vale lembrar que Villa-Lobos também demonstrou em vida, publicamente, o apreço que tinha por Nazareth.
Ernesto teve um fim de vida problemático atacado por uma sífilis mal curada. Nos últimos anos de sua vida conheceu um pouco do reconhecimento publico de sua obra como o Festival Nazareth com recitais no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em 1926. Em 1929 Francisco Alves, o Rei da Voz, grava “Favorito” (com letra de autor desconhecido).
Em 1933 devido as crises nervosas que sofria devido a Sifilis em quarto grau foi internado na colônia Juliano Moreira em Jacarepaguá. No dia 01 de fevereiro de 1934 a Colônia notifica que o paciente Ernesto Julio de Nazareth se encontrava foragido. Trës dias depois seu corpo é encontrado flutando nas aguas de uma represa nos arredores da Colönia. Um fim trágico para um dos expoentes da nossa musica. Ernesto trouxe o lirismo, o ritmo frenético e sincopado, trouxe inventividade a musica brasileira.
Calado foi a centelha de inspiração do Choro que Chiquinha Gonzaga conduziu e materializou em seu piano. Ernesto Nazareth, por sua vez, foi quem abriu a torneira e deixou transbordar a totalidade melódica e musical do Choro.

“Odeon”(Ernesto Nazareth) , Pixinguinha (1971)

“Tenebroso”(Ernesto Nazareth), Antonio Adolfo Abraça Ernesto e Chiquinha (1991)
Claudio Jorge (Violáo) / Dino 7 Cordas (Violáo 7 Cordas)/Jorginho do Pandeiro (Pandeiro)/Ricardo Benicio de Abreu (Violino)/Antonio Adolfo (piano e arranjo)

“Floraux”(Ernesto Nazareth) , Jacob do Bandolin (1967)

“Bambino” (Ernesto Nazareth/Catulo da Paixáo Cearense), Antonio Adolfo Abraça Ernesto e Chiquinha (1991).
Antonio Adolfo (piano;arranjo)/Dino 7 Cordas (Violáo 7 Cordas) , Ernesto Ribeiro Gonçalves (Contrabaixo)/Jorginho do Pandeiro (Pandeiro)/Ze Luis Mazzoti (voz)

“Feitiço”(Ernesto Nazareth), Antonio Adolfo Abraça Ernesto e Chiquinha (1991)
Antonio Adolfo (piano/arranjo)/Celso Woltzenlogel (flauta)/Dino 7 Cordas (Violáo Sete Cordas)/Jorginho do Pandeiro(Pandeiro)/Oberdan Magalhaes (flauta)

“Apanhei-te Cavaquinho” (Ernesto Nazareth), Quinteto Villa-Lobos (1977)

2 comentários:

pituco disse...

grande paul,

estória de nossa cultura musical é no muzamusica...parabéns.

é verdade...há um vídeo em que o maestro jobim entrevista o maestro gnatalli...e esse toca odeon, afirmando ser um tango brasileiro e não choro, como afirma-se hoje...rs

abraçsonoros

Paul Constantinides disse...

caro pituco
obrigado pelo comentário.
jobim e gnatalli são dois grandes icones da nossa musica assim com ernesto nazareth.
a musica as vezes nem precisa de rotulos, mas o q for será.
beleza sem duvida.
abs
paul