24/09/2008

Trio 3D e os 45 anos de Samba Jazz

Em 63 Antonio Adolfo, aos 16 anos de idade, cursava o colegial e tinha um conjunto chamado Samba Cinco”, do qual o baterista, Nelson Serra foi parar nos ensaios do musical bossa nova, “Pobre Menina Rica” de Carlos Lyra. Dai nasceu a conexão que levou o piano de Antonio Adolfo e o baixo de Cacho Pomar ao palco da mesma peça e fez surgir, batizado pelo Carlos Lyra, um dos primeiros Trios de Jazz Samba , o Trio 3-D.
Este trio, foi um dos mais importantes e expressivos grupos instrumentais surgidos no Brasil na década de 60, que passaram pela vertente da Bossa Nova, transcenderam pelo Jazz, introduzindo assim um conceito musical que ficou conhecido como Samba Jazz.

O Trio 3-D, teve sua formação original com Antonio Adolfo (piano), Nelson Serra (bateria) e Cacho Pomar (baixo acustico).

Nos próximos dias 26 e 27, sexta e sabado , no Mistura Fina, Rio de Janeiro, se realizará o show comemorativo aos 45 Anos do Samba Jazz, com a reunião do
Trio 3-D, com Antonio Adolfo (piano), Sergio Barrozo (baixo acustico) e Chico Batera (bateria).

Este show, esta reunião é imperdível.
Se puder ir, vá!

Se não, faça como eu, torça para que o Antonio Adolfo traga-o na sacola, quando voltar pra sua escola aqui em Miami.

No blog da fotografa/jornalista Monica Ramalho, http://laranjaeacordovestidodela.blogspot.com/
tem mais toques sobre este show e ainda, vale a pena sempre visitar o blog dela pra quem quer saber sobre o que esta rolando de bom no Rio de Janeiro.


Aproveito a ocasião para publicar um trecho de entrevista que fiz com Antonio Adolfo durante o segundo semestre do ano passado. Neste trecho ele fala sobre as gravações do Trio 3-D em 64 e 65, e de como surgiu depois o Conjunto 3-D, que teve como cantora, estreante na época, Beth Carvalho.

Segue :

“Quando começamos a gravação do nosso primeiro disco , Tema 3D, o baterista era o Nelsinho. Ele participou do primeiro dia de gravação, mas estava servindo o Exército e era dia 02 de abril de 1964 (o dia seguinte ao Golpe Militar). No dia seguinte ele não apareceu no estúdio e a gente teve que ir atrás de outro baterista. Convidamos o Do Um Romão, que a gente conhecia e que na época já era uma legenda, já havia tocado com o Copa Trio, o Sergio Mendes e depois do Trio 3-D ele chegou a tocar no Weather Report.
Este disco foi inteiramente feito pelo trio, e teve ainda, o Claudio Roditi (trompete) e Arisio Rabin
(violão). Foi relançado, nos anos 90, pelo Charles Galvan (do Titãs) que faz uma excelente pesquisa musical.
No Lp tem uma música minha, chamada "Tema 3-D, tem Baden Powell, Jobim,
“Garota de Ipanema”, “Berimbau”...
Até hoje eu encontro gente que conhece este disco, que é fã do Trio.
Durante o show que fiz com o João Donato, no Mistura Fina (2007) tive um “recall” e toquei "Consolação" como tocava no Trio 3-D. O nosso primeiro disco foi muito bem recebido.

"Em 65 fizemos uma coisa diferente. Ah! E o Nelsinho voltava a bateria.
Fizemos primeiro o Lado A do "Trio 3-D, Convida" com apenas nós três tocando, com nossos arranjos bem elaborados e com influências do Zimbo Trio.
O Lado B a gente teve arranjos do Eumir Deodato e introduzimos sopros. Os sopros eram do Raul de Souza, que fez solos fantásticos neste disco.
É uma pena que estes dois discos foram relançados mas acabaram rapidinho."

São discos totalmente instrumentais?
“A proposta do Trio 3-D era insturmental, apenas no primeiro disco houve duas músicas cantadas. Foi mais ou menos uma imposição do baixista, ele era argentino e era mais velho e então queria cantar. Ai gravamos e ele cantou "Amor e Paz" e " Fly Me To The Moon ". Já o segundo disco foi totalmente instrumental
.”

As produções de música instrumental neste período do início dos anos 60, eram mais numerosas?
"Sim, no Brasil, eram. Nesta época eu tinha17 anos de idade , e estava gravando, produzindo, música instrumental.
Fizemos o primeiro disco em 64 e a gravadora no ano seguinte já queria gravar outro. Gravamos compactos também pela RCA, RGE. Acompanhávamos outros cantores. Faziamos a abertura dos shows e depois entrava o cantor. Tocamos com o Wilson Simonal. Depois teve uma fase intermediária, que deu uma esfriada nessa coisa do Samba Jazz. O Beco das Garrafas, que era o centro onde as músicas aconteciam, Bossa Nova e Jazz; foi esvaziando. O pessoal, a maioria dos musicos, foi saindo de lá e indo para os Estados Unidos e México. Nesta época eu conheci a Beth Carvalho e o Eduardo Conde e formei o Conjunto 3-D, que em relação ao trio tinha a inclusao de um grande guitarrista, o Hélio Delmiro. Gravamos um disco mais ou menos na onda do Sergio Mendes Brasil 66 pela Copacabana. Este disco tbm foi relancado em CD mas sumiu rapidinho. Beth Carvalho e Eduardo Conte eram os cantores. A Beth Carvalho era, até então, inédita, na capa do disco ela saiu toda gatinha, garotinha. A Beth prima pelo bom gosto ao escolher musicas que grava. Nós gravamos no Conjunto 3-D a “Roda” do Gilberto Gil, tinha música do Marcos Valle, do Edu Lobo e ainda algumas musicas americanas transformadas em samba...


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