19/12/2008

Suzana Salles _ Gema linda da lira paulistana


A voz de Suzana Salles é linda. Tem o sabor da beleza que balança entre o delicado e o atrevido; resultando numa agradável contemporaneidade.
Emergente do turbilhão musical que ocorreu em Sampa entre 1979 e 1985, e que muitos chamam de Vanguarda Paulista; ela cantou no grupo Sabor de Veneno de Arrigo Barnabé (Clara Crocodilo), no Isca de Policia de Itamar Assumpção; trabalhou com Luiz Tatit, fez shows com Ná Ozetti; cantou por um ano na Alemanha, gravou 04 discos, além, de participar de vários outros. Alguns anos atr
ás ela começou a desenvolver um projeto cultural na cidade histórica de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraiba, SP e atualmente está dando continuidade ao seu último projeto musical “Caipira”, uma sensível e tocante reinterpretação de clássicos da música caipira. Suzana é de uma geração de musicos do início dos anos 80 que optaram em trabalhar de forma independente (fora do âmbito de grandes gravadoras), e assim, muitos se mantiveram até hoje; e este é o caso dela.Um fator importante deste aspecto é quanto a qualidade que se encontra neste grupo que optou em fazer o que pensava ser melhor, ao invés de seguir uma tendência de mercado. A marca, o marco, no trabalho de Suzana é a qualidade, a liberdade e a originalidade. Nota-se claramente na pequena, mas extremamente exuberante produção da cantora; vida própria, ares de música e poesia que poucas vezes encontramos no dia a dia no mercado da musica brasileira. A voz de Suzana Salles é um fino condutor de alegrias, sentimentos, pensamentos, sensações e essencialmente de boa música.

Sua discografia: “Suzana Salles” (94) - “Concerto Cabaré” (96) – fruto de sua passagem pela Alemanha, canta em alemão cancões de Kurt Weill e Brecht.; “As Silabas”(2001) e “Caipira”(2004)
Segue, pequena entrevista que realizei com a cantora semana passada
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Para vc o que significa cantar?
Cantar significa viver. Quando a gente canta numa roda de amigos, ou em família, estamos deixando nossas marcas no tempo. Marcando nosso lugarzinho no mundo.

Quando e como vc começou a cantar?
Canto na família desde criança, com as irmãs, com os tios em volta da mesa... então, quando comecei a cantar profissionalmente, nem percebi. Achava tão natural que mesmo o fato de já ter gravado disco com Arrigo Barnabé (Clara Crocodilo), não me autorizava a dizer: sou cantora. Eu pensava em ser jornalista, correspondente internacional; afinal, cantar era sempre, era viver...

Técnica ou emoção, o que canta mais alto?

Aí está um belo embate... que pode se transformar numa grande parceria.

Vc surgiu cantando com o Arrigo Barnabé. Gostaria de saber como vc considera hoje o trabalho dele, e o q significou pra vc ter vivido aquele momento nos anos 80?
Olha, tive a sorte de estar chegando em São Paulo depois de um ano morando na Inglaterra e cair diretamente na ECA (Escola de Comunicações e Arte)-Usp. Ali estava acontecendo muita coisa; quando ouvi Arrigo pela primeira vez, já era na intenção de fazer vocal para o Festival Universitário. Estávamos Vânia Bastos e eu, foi pá-pum, ouve, canta, entra no turbilhão e na efervescência e vai fazendo, vai fazendo, sem ter tempo pra pensar... Arrigo é um compositor tremendo, uma fonte de criação. Ao ouvi-lo pela primeira vez, imediatamente reconheci seu valor e o admirei como o admiro até hoje. Além de tudo, é um cara muito generoso, um grande parceiro. Taí um companheiro divertido, inteligente, sagaz. Então, viver o momento foi importante, e mais rico ainda foi conviver com gente criativa como Arrigo, como Itamar Assumpção, Luiz Tatit...

Em sua discografia nota-se que em dois Cds (Silabas e Suzana Salles, de 94) há duas canções com suas letras. Eu gostaria de saber se vc compõe/escreve com frequencia ou não? E se sim, pq opta em gravar outros compositores, q não vc?
Sou compositora bissexta, escrevo pouco, e portanto me considero muito mais cantora/observadora que compositora/criadora. As poucas parcerias que fiz com Ná, Itamar, Chico Cesar, Paulo Padilha, estão aí, gravadas... quem sabe ainda escreva mais alguma coisa, mas são criações esparsas.

Como se deu seu envolvimento com a cidade de São Luiz do Paraitinga e que trabalho tens desenvolvido por lá?
Fui convidada a ser jurada num festival de marchinhas carnavalescas em 1990, e dali em diante não parei mais de conhecê-la. Imagine o que é uma cidade viver sua cultura diariamente, e mais: criar seu repertório de músicas, cantá-lo a plenos pulmões pelas ruas, inventar seu carnaval, suas fantasias... isso, a despeito de todo o poder da mídia televisiva, radiofônica, e tudo o mais o que sabemos. A cidade se diverte, e ponto final. É claro que quem assiste à festa quer aprender a brincar, e é justamente o que aconteceu comigo... aprendi a brincar. Então em 1999 escrevi um projeto que o SESC aceitou, chamado “SESC Cai e Pira na Folia de São Luiz do Paraitinga” e foi uma farra, uma verdadeira celebração, onde durante um mês os artistas de São Luiz deram oficina de confecção de chapéus, tiaras, adereços carnavalescos; havia oficina de composição; de dança; de percussão... No último dia, um grande baile carnavalesco onde os músicos luizenses tocaram e viram suas canções interpretadas por Wanderlea, Tom Zé, Luiz Tatit, Arrigo Barnabé, Passoca, Ná Ozzetti, Titane, eu, além da cantora da cidade, Tânia Moradei. A partir dali, não parei mais de ir a São Luiz do Paraitinga, fui encantada definitivamente. Agora virei cidadã luizense, título que muito me honra, e há dois anos fazemos a Semana da Canção Brasileira, um projeto meu apoiado incondicionalmente pela Secretaria de Estado da Cultura. São Luiz do Paraitinga é o lugar ideal para sediar um evento que pensa a Canção Popular Brasileira. A cidade é singular, e chama a atenção por reverenciar o passado e ao mesmo tempo ser antenada com o novo, reinventando sua história.

Diga-me, por gentileza, sobre o seu último CD “Caipira”. Como nasceu este projeto e em que estágio se encontra agora a continuidade deste projeto?
“Caipira” é um feliz encontro de Lenine Santos, tenor com formação em música erudita, o violeiro Ivan Vilela, também professor da Universidade de São Paulo, e eu, cantora popular. Nós tivemos trajetos bem diferenciados dentro da música, mas nunca perdemos de vista nossas raízes caipiras; é a música que eu cantava em família; é a música que Lenine Santos cantava em criança; o violeiro Ivan também ouvia tudo isso lá em Itajubá (MG), sua terra natal. Somos de famílias grandes, temos muitos irmãos (no mínimo sete!!!, e na minha casa ainda somos todas mulheres) e tínhamos tradição em música dentro de casa. Quando Lenine Santos e eu nos conhecemos, fazíamos parte do elenco de uma ópera contemporânea escrita por Arrigo Barnabé e Tim Rescala, com cenário de Guto Lacaz. Era uma encenação especial para comemorar os 80 anos da Semana da 22, um projeto do SESC de São Paulo. Estivemos em cartaz pelo interior durante dois meses, e nesse ínterim descobrimos que já éramos uma dupla caipira, só faltava se conhecer... O repertório era comum a nós dois, as vozes timbravam bem, enfim: estava tudo lá. Quando pensamos numa viola caipira, pensamos direto no Ivan Vilela. Acertamos na mosca: esse mineiro é do balacobaco, o cara cria arranjos que casam perfeitamente com a proposta. Gravamos um CD, um DVD, e no ano que vem já vamos gravar mais um disco, Ivan está terminando de criar os arranjos. Além de alguns clássicos sertanejos, vamos também gravar canções antigas que meus tios cantavam em casa. O eterno retorno...

links para ver e saber mais sober Suzana Salles:

http://www.suzanasalles.com.br/

http://www.youtube.com/watch?v=bD0TnEoM4IQ

http://www.youtube.com/watch?v=kmyyppXojbs

http://www.youtube.com/watch?v=KSqe8gH2GTc

(fotos de Angélica del Nery)



3 comentários:

Anônimo disse...

beautiful Materia !!!!
D.B

Anônimo disse...

Viva a Suzana.
Muito boa entrevista.
Adora esta cantora.

Tudo de bom.
Ignacio

Anônimo disse...

Gostei deste blog, e muito desta entrevista.

Volto para ver novidades.

Augusto