Desde seu primeiro disco “Clara Sandroni” (1984) até hoje pode-se encontrar em seu repertório enventuais canções de medalhões como Chico Buarque, Caetano, Rita Lee; mas sua maior qualidade está nas inéditas que ela garimpa mundo afora e transporta para a sua voz melodiosa.
Para mim Clara é porta voz de uma poesia que transcende, que não se ouve no dia a dia, mas que tem uma contundência cotidiana e um significado forte.
Músicas como “Pão Doce” (Carlos Sandroni) do “Daqui”(1987); “; “Eu Quero Um Homem Prá Mim” (Mathilda Kovak) e “O Amor é Sacanagem” (Luis Capucho) de “Cassiopéia” (2007) são bons exemplos do que falo.
Leia a entrevista que fiz com Clara Sandroni e escute "Louco Por Voce" (Ivan Zigg) uma de suas canções ao mesmo tempo.
foto : Edu Longo
1. Para você o que significa cantar
Os significados vão mudando com o tempo, com a vida. No momento, acima de tudo, significa sentir muito prazer e muita emoção, de uma maneira que só cantando eu sinto.
2. Quando e como você começou a cantar
Comecei em família, com o estímulo dos pais, depois veio o colégio, os festivais, e finalmente a opção profissional em 81.
3.Técnica ou emoção, o que canta mais alto?
A emoção sempre canta mais alto e antes. Por isso é que a técnica é tão importante para conseguir cantar, sem ela acho que não poderia controlar certos momentos de emoção ou certas passagens de muita dificuldade técnica.
4.Quem você considera a sua maior influência?
A família é a primeira, sem dúvida. Mamãe cantava ao violão e nos fazia cantar junto. Depois, a emoção da Elizeth Cardoso e de Milton Nascimento cantando, me revelou possibilidades que desconhecia. Mais tarde, quando conheci o Grupo RUMO, defini caminhos de carreira e de interpretação.
Teve alguma cantora que para você é uma importante referência?
Elizeth Cardoso, Ná Ozzetti. Entre os cantores, Milton Nascimento, Claudio Nucci, entre outros.
5.Clara, você surgiu num período peculiar da canção brasileira, numa geração que
Ai, ai, que pergunta difícil...mas vamos lá. Pra nós que começamos a fazer música independente no fim dos anos 70 e comecinho dos anos 80, era natural, era um caminho lógico. Lutar contra a ditadura, defender a música brasileira, ser criativo, ser independente das grandes gravadoras. Fazer música criativa e independente era continuar no mesmo caminho político, só que na música.
Hoje, por mais que o quadro político seja completamente diferente, ainda na música vc tem que tomar certas posições, pode fazer um trabalho de resistência e preservação da tradição musical brasileira, pode querer fazer uma música criativa e independente, pode querer tentar um caminho mais comercial e fazer sucesso na rádio, coisas assim. Todos esses caminhos são relativos, podem se somar e/ou se cruzar. Nada é muito estável no mercado musical, a não ser o Roberto Carlos.
6. Sua discografia revela uma tendência a buscar músicas e letras inovadoras. Este processo se faz a partir de uma pesquisa, ou faz parte natural do teu meio de relações? Como você desenvolveu um tino para isto?
No começo da carreira eu queria fazer algo diferente, queria seguir o caminho da pesquisa de linguagem, a exemplo do grupo RUMO. Certamente me aproximei de meus pares, músicos criativos, gente que estava compondo livremente.
. 7. A década de 90 foi silenciosa para você. Quer dizer, você não gravou durante este período, apenas participou da coletânea “É sim Sinhô”(1999) . Isto foi devido ao fato de ter se envolvido em pesquisas que resultaram no livro que publicou em 98 (“260 Dicas Para o Canto Popular –Profissional e Amador”)?
Nos anos 90 produzi bastante, porém o resultado apareceu mais pro final da década. Meu livro, por exemplo, só foi lançado em 98. O grupo Lira carioca, ao qual me juntei ao lado de Marcos Sacramento (cantor), produziu 4 Cds, 3 sobre a obra de Sinhô e mais um sobre compositores dos anos 20. Lançamos os Cds entre 1998 e 2001, mas já vínhamos trabalhando desde 97. Outra produção importante nessa época foi o show e o CD Saravá, Baden Powell! Que começou em 95 mas só foi lançado em CD pela Biscoito Fino 2002.
8. Em seu último disco “Cassiopeia”(2007) a canção título é cantada quase que integralmente em espanhol, coisa q você já fez em discos anteriores. Há neste caso uma conscientização/aproximação Latino Americana em seu trabalho, ou é apenas um prazer estético cantar em espanhol?
Como te contava, nos anos 70 lutávamos contra a ditadura não só no Brasil, mas também no Chile, na Argentina etc. Cuba havia feito sua revolução que aos poucos se tornou comunista e apoiava todos os movimentas libertários na América latina e Caribe. Foi a década de Mercedes Sosa (Argentina), Daniel Viglietti (Chile), Los Olimareños (Uruguai), Violeta Parra, Angel e Isabel Parra (Chile), Silvio Rodrigues e Pablo Milanes (Cuba) e tantos outros.
Aos poucos, com a profissionalização, passei a cantar em português também, mas sempre que posso apresento ao público uma canção do Silvio.
9. Da Clara Sandroni do disco de 1984 para a Clara Sandroni de “Cassiopéia” o que mudou?
Nossa! Muita coisa com certeza, mas acho que é uma pergunta pra ser feita ao público, ou aos críticos. Eu me sinto a mesma, com os mesmos impulsos e paixões. Ainda canto o que quero, porque me apaixono e tento convencer os outros de que o que canto é lindo...se consigo ou não...aí é que está minha labuta, minha arte, minha profissão.
O que valeu?
Tenho 10 Discos gravados, 4 solos e 6 parcerias, um livro escrito com dicas para os cantores. Parece óbvio dizer, mas tudo valeu, só não valeu o que deixei de fazer para divulgar mais o meu trabalho.
O que ficou?
Continuo com a sensação de que tenho que fazer, cantar, criar, às vezes até me afastando um pouco da música diretamente, e me aproximando mais da produção, como estou fazendo agora dirigindo o Casarão de Austregésilo de Athayde, novo Centro cultural aqui no Rio.
10. Eu não consegui deixar de resistir em lhe fazer esta pergunta: O amor é sacanagem? (Risos)
A pergunta é boa, a poesia tem duplo sentido não é? Acho boa essa liberdade interpretativa. Quando canto eu digo (e penso), “ O amor, sacanagem! Não tem poesia nem matemática, o amor é magia... o amor, é sacanagem! Etc, no sentido de Caramba! Não tem jeito! O amor é magia.
11. A música “Louco por Você” tem no início o som de água como que escorrendo das mãos, algo assim. Este detalhe tão rico e elaborado em sua música. Como ocorre? Durante o processo de gravação ou num planejamento anterior?
Quem está “tocando” a água é o Carlos Fuchs, produtor musical do CD, compositor, pianista, o grande parceiro deste trabalho. Muita coisa foi feita de improviso, no estúdio, na base da experiência mesmo. Esse efeito de água é um desses exemplos.
12. Gostaria de saber se ultimamente você esta envolvida em algum projeto musical, planos para um novo disco?
Estive recentemente (outubro de 2008), fazendo shows na França com meu irmão Carlos Sandroni, e tivemos a oportunidade de retomar nossa antiga parceria. Meu próximo CD será de voz e violão, com ele, gravando um repertório que nos é muito intimo e querido e que ainda não gravamos.
5 comentários:
Que voz linda! Boa entrevista.
abs
Zozimo
Paul
A voz , cantora Clara Sandroni, muito linda, boa entrevista.
Tudo de bom.
Roseane
A Clara esta entre as 10 mais!!!!!!
Louco por ela!!!!!
Jura
A Clara Sandroni é realmente muito boa mesmo.
Gosto muito das músicas que ela canta e a voz dela é totalmente demais.
Renata Luz
Salve Clara!!!
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