14/04/2009

Saudosas Bolachas (07/1971)

CHICO BUARQUE DE HOLLANDA
CONSTRUÇÃO (1971)

Depois do rebu com “Apesar de Voce” em 1970, em 1971 Chico Buarque de Hollanda lançou o belissimo disco : “Construção”.
Trabalho que trouxe canções como “Samba de Orly” (Chico/Toquinho e Vinicius) , “Deus Lhe Pague”(Chico Buarque), “Cotidiano (Chico Buarque)”, “Minha Historia” (adaptação livre de “Gesubambino” de Dalla-Pallotino) e a canção que dá nome ao disco.
“Construção
”, a canção, estabeleceu um marco poético/literário na musica brasileira. Foram raras as vezes em que se alcançou esta precisão métrica, ritmica e poética costurada sobre batida cadenciada e repetitiva de samba entrecortado com arranjos de sopros para aumentar a dramaticidade do que se canta: a odisséia de um peão de construção que “tropeça no céu” e “se acaba no chão feito um pacote flácido...”
Em “Construção”, o disco, vemos um Chico Buarque transbordando uma poética musical socialista e romântica. Tornado-se um trovador das dores dos humildes, que fala do Rio de Janeiro com nostalgia e ironiza a ditadura dizendo-lhe “Deus Lhe Pague”.
Sobre este trabalho, Chico fez a seguinte consideração em recente entrevista: “ Vejo um disco bastante angustiado. Se a gente continuar dividindo o trabalho, você vai ter, desde Construção até Meus caros amigos, toda uma criação condicionada ao país em que eu vivi. Tem referências a isso o tempo todo. Existe alguma coisa de abafado, pode ser chamado de protesto... eu nem acho que eu faça música de protesto....mas existem músicas aqui que se referem imediatamente à realidade que eu estava vivendo, à realidade política do país.”

Escute a canção-titulo:


"Construção”,
Chico Buarque/1971

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sabado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Nenhum comentário: