06/12/2010

UMA VELA PARA NOEL

Vendo essas letras eu me pergunto se Noel Rosa não foi, tanto quanto sambista, um cronista e um poeta.” (Rubem Braga, escritor)


Noel Rosa
(11/12/1911 – 04/05/1937)


Dia 11 de dezembro de 2011 fará exatamente um ano que voltei ao Brasil depois de uma década na América do Norte. Na mesma data, para meu regozijo infantil (eu sei), comemora-se o centenário de Noel Rosa, o poeta da vila, um sambista importante na história da nossa musica, percursor do samba urbano, doolhar poético sobre a cidade, sobre os usos e costumes sociais, sobre as paixões pelas mulheres, por seu bairro, sua agremiação e a boêmia.
Um retrato de um tempo que pela beleza inserida ganhou a atemporalidade dos gênios. O jovem que por aqui passou e deixou em tão curto tempo de vida (26 anos) uma obra esplêndida e expressiva.
Noel nasceu, viveu e morreu na mesma casa modesta da Rua Teodoro da Silva em Vila Isabel, Rio de Janeiro. No período em que ele viveu, sua Vila Isabel se situava entre o centro da cidade e a uma área de expansão suburbana. Foi um período de difusão cultural importante pelas veias da cidade que subiam da praia aos morros da cidade e ganhavam novos nichos culturais nos bairros.
Noel foi um poeta urbano, jovem e irreverente que conseguiu colocar no papel, na letra, a importância que a melodia amoldava. O samba foi seu nicho natural pela circunstância geográfica e isto só engrandeceu o samba e a sua obra.
Aspectos sobre a sua deformação física facial, consequência de um parto natural muito difícil, não abateram-lhe, não traduziu-se em rancor, antes, ao humor que bem se vê em suas canções somado ao espirito observador, gozador e malandro, como em “Século de Progresso” , “Conversa de Botequim” e “Dama do Cabaré”.

Trecho de “Século de Progresso” (Noel Rosa) .... “No século do progresso/o revólver teve ingresso/pra acabar com a valentia/um tiro a pouca distância....”

Ainda, outra face de Noel é a que tem tamanha capacidade reflexiva e lírica como se pode notar em “O Orvalho Vem Caindo” ou em “Feitio de Oração

Note a imersão do Poeta da Vila nesta letra:

Feitio de Oração” (Vadico/Noel Rosa)
“Quem acha vive se perdendo/Por isso eu vou me defendendo/Da dor tão cruel desta saudade/Que, por infelicidade/Meu pobre peito, invade/

Batuque é um previlegio/Ninguém aprende samba no colégio/Sambar é chorar de alegria/É sorrir da nostalgia/Dentro da melodia/

Por isto agora lá na Penha/Vou mandar minha morena/Pra cantar com satisfação/E com harmonia/Esta triste melodia/ Que é meu sama feito de oração/

O samba na realidade não vem do morro/nem lá da cidade/E quem suportar uma paixão/Sentirá que samba então/Vem do coração”.

Noel Rosa é uma grande influência das gerações seguintes as suas.
Ainda hoje se vê a sua sombra, o seu olhar, a sua ginga na musica dos dias de hoje.
Pagina importante da nossa história.
Pai dos boêmios, poeta da musica.
Benção que existiu praqueles que o conheceram pessoalmente e os que o continuam conhecendo.
Noel e vinho fino destilado numa vila eternizada no leito do Rio de Janeiro, no coração do Brasil.

“A vocação é necessária até para se dar nó na gravata”(Noel Rosa)


“Com Que Roupa?” (Noel Rosa), canta Noel Rosa, 1933.

“Dama do Cabaré” (Noel Rosa), canta Orlando Silva, 1950

“Feitio de Oração” (Vadico/Noel Rosa), canta Silvio Caldas, 1948

“Século do Progresso” (Noel Rosa), canta Aracy de Almeida, 1954

“Pra Que Mentir?” (Vadico/Noel Rosa) , canta Paulinho da Viola, 1978

“O X do Problema” (Noel Rosa), Aracy de Almeida, 1954

“Conversa de Botequim” (Vadico/Noel Rosa), Moreira da Silva, 1960

“O Orvalho Vem Caindo” (Noel Rosa/Kid Pepe), Almirante e os Diabos do Céu, 1942

“Palpite Infeliz” (Noel Rosa) canta Aracy de Almeida, 1946

4 comentários:

Anônimo disse...

Paul,

antenado e com muito saber como sempre!


Ab

Nelson

Anônimo disse...

Demais Paul , como sempre!
salve a musica Brasileira!
Diogo

Érico Cordeiro disse...

Grande Paul,
Noel Rosa é um dos pilares da música popular brasileira. Renovou o samba, deu-lhe um colorido e uma linguagem completamente carioca e urbana e foi, ao mesmo tempo, universal.
Moderno nas concepções harmônicas, muito por conta do grande parceiro Vadico (que, ao lado de Custódio Mesquita, foi uma das grandes influências do maestro Tom Jobim).
Parabéns Noel, que com suas letras sagazes e imortais, pôs seu nome no Panteão dos nossos maiores artistas de qualquer época.
Abração!

Paul Constantinides disse...

é isso ai Erico.
completamente correto e acertado....
abs
paul

valeu diogo
valeu nelson

abs
paul