07/09/2011

Tem muita Bossa no Sushi

Tony Freitas, o querido Pituco, é um musico paulistano que nos anos 80 parte da Banda Lingua de Trapo. Sua trajetória musical o levou para o Japão onde vive há duas décadas.
Este cantor, compositor e violinista sensível e peculiar recentemente brindou o mundo da musica brasileira com seu album solo de estréia o Tony “Pituco” Freitas. Album lavrado, plantado e colhido no distante Oriente, onde nosso amigo , o Pituco, acende a chama da canção brasileira com finíssimo trato.

Com sua voz e seu violão ele desfia belas canções entre clássicos como India, Aguas de Março e Rapaz de Bem e uma de sua autoria (Beijo Torpedo) com a sutileza que nos remete a uma Bossa contemporanizada.

Nada mais propricio, nesta semana da pátria, do que postar aqui neste cantinho da Grande Rede Mundial (WWW) um pouco do som, um pouco do papo, numa breve entrevista, deste musico brasileiro que em terras estangeiras mantem forte o estandarte da nossa arte.

Saudações ao Pituco, grande musico, blogueiro e amigo virtual.

“India” (Alberto Marsicano), Pituco 2011

Primeiro, conte-nos um pouco das suas origens. Quando a musica entrou na sua vida, qual foram suas influencias iniciais?

pituco: discos clássicos da coleção de acetatos do avô...e os 45 rpm dos tenores italianos, tito schippa, caruso, da coleção de meu pai...minha diversão predileta, após o colégio, era reger as sinfonias e orquestras...dos discos do avô, claro...rs...e imitar aos berros os tenores portentosos das cançonetas italianas...aos 12 anos pedi um piano de presente...me deram um violão...rsrs....ganhei uma vitrola e meu primeiro disco estereofônico foi 'minas' do milton nascimento...a primeira música que fez minha cabeça foi...'beijo partido' (toninho horta)...e o primeiro show foi 'falso brilhante' de elis regina...eu tinha 15 anos e a música foi entrando naturalmente assim em minha vida...aliás, nunca determinei-me a ser músico nessa época.

Como nasceu o Lingua de Trapo e que ideia vc faz hoje deste trabalho e do sucesso que obtiveram nos anos 80?

pituco: big brother paul, quem faz sucesso é a madonna, kady gaga e o saudoso michael jackson...nós apenas cumprimos a missão de divertir o respeitável público, aonde quer que ele esteja...o lance do LdT nasceu na faculdade de comunicação social, cásper líbero, em sampa, 1979...um montão de amigos agregados, que tentavam combater a ditadura e o movimento estudantil carrancudo, com mais humor...até que rolou a 'virada paulista', no teatro 'lira paulistana'...um projeto com bandas e artistas de váriso estilos...depois, a gente foi convidado pra fazer uma temporada no famoso 'porão' cultural...a galera estudantil curtia pacas aquela estória toda...então veio nosso primeiro projeto fonográfico que foi independente (uma alternativa de muitos naquela época)...o maurício kubrusly que era editor da revista 'som três' e diretor da rádio globo, curtiu nosso trabalho e alavancou a idéia de um movimento musical independente, apelidado de 'a vanguarda paulistana'...bom, esse foi o começo do LdT...detalhes no site da banda, que toca até hoje, com outra formação, mas são tutti bródi da famiglia trappo, bello.

Pituco porque vc mudou-se para o Japão?

pituco: bom...o Ldt rolou até 88 mais ou menos...logo após a nossa participação no 'festival dos festivais', da rede globo de televisão, com 'os metaleiros também amam' (ayrton mugnaini e carlos castelo)...depois ainda tentei uns pockets shows na onda performática e humorística, pela noite paulistana...o 'conversa fiada', com o ex-tecladista do LdT, joão lucas...em 89 participei de alguns episódios do programa 'bronco total', a convite do próprio ronald golias, que me assistiu nessas performances em casas noturnas...muitos amigos profissionais sempre insistiram pra que eu seguisse essa vocação, mas meu lance sempre foi cantar, acredito eu...tinha o baterista do Ldt, nahame cassebi, que já residia aqui em tokyo...pintou a chance pra conhecer o país e poder levantar uma grana cantando e seguir viagem pra itália, primeiro roteiro traçado dessa viagem international...rsrsrs...mas acontece que fui contaminado pelo virus de 'narita' e permaneço por aqui, até hoje.


“ Ilusão A Toa” (Johnny Alf), Pituco (2011)


Como você percebe a musica brasileira vivendo tanto tempo fora do Brasil?

pituco: sempre se falou que o povo japonés é um dos que mais consome música brasileira...folclore â parte, o povo daqui, pós-guerra, sempre esteve interessado em obter informação sobre tudo, desde que o arquipélago começou a manter relações comerciais com quase todo planeta, nas décadas de fartura, conhecidas como 'babloo'...a 'bolha econômica'...qdo cheguei em 90, em tokyo havia apenas duas casas que ofereciam música brasileira ao vivo...saci pererê e pça onze, onde trabalhei...um programa de rádio semanal...'saûde saudade'...e uma revista mensal...'latina'..e o carnaval de asakusa, com desfiles de blocos e escolas de samba, pra aficcionados nipônicos...de qualquer maneira, o jazz e música erudita sempre foram mais prestigiadas aqui...festivais durante todo ano, spots live em cada esquina, bandas e trocentos músicos (hj também já sucumbiram)...o lance brasileiro tinha e tem até hj o foco no samba exportação...dançarinas e percussionistas...e a bossa nova, que caiu na graça aqui, graças aos eua...rs..os músicos estrangeiros residentes aqui são acusados por seus pares pela mesmice de seu repertôrio...como se fosse uma incapacidade nossa de criação...na verdade, é uma incapacidade nossa de liberdade financeira pra apresentarmos um trabalho mais elaborado e de um produtor nativo que arrisque em novos projetos....então toca-se o que o povo quer ouvir de música brasileira...e não adianta muita invenção...há sim uma galera que consome e entende de mpb, mas é uma parcela ínfima e insignificante comparada ao consumidor potencial japonês...logo que cheguei aqui, os discos brasileiros eram vendidos nas lojas em prateleiras denominadas...exotic music...rsrsrs

ainda relutei no início e fizemos uma banda inversa da imagem predominante de samba e carnaval...extra acoustic, 92-95...sexteto, 3 brasileiros...contrabaixo, flauta e vocal...e 3 japoneses...dois violonistas e violoncello...repertôrio e arranjos arrojados...nem um disco conseguimos registrar desse projeto bacanudo...apenas vídeos e áudios caseiros ao vivo...a galera curtia, achava diferente e coisa e tal...mas, perguntava...'cadê o tamborim e o pandeiro'???...

5- Quando surgiu o projeto de fazer este Cd que esta lançando e como foi faze-lo?

pituco: após o terremoto de kobe, aonde fazíamos uma temporada numa casa brasileira, retornamos ilesos (mas traumatizados) pra tokyo e eu resolvi dar 'um tempo' com a música...há exatos 6 anos atrás, surgiu a chance de retomá-la, com um convite de ser a atração de um recém inaugurado restaurante brasileiro, aqui em shibuya, tokyo (bairro onde moro)...como costumo dizer...'um cantinho, um violão, esse amor, meu ganha pão'...em 2008 rolou o primeiro festival de bossa nova, em aoyama (bairro vizinho de shibuya) e me apresentei lá ...a galera parece que curtiu e convocaram-me pro ano seguinte...foi então que um produtor japonês, taro sakai san, que já havia feito o cd ao vivo do oscar castro neves no blue note tokyo, assistiu minha apresentação e me convidou pra gravar também...a princípio, um cd com standarts de bossa nova...rolou um primeiro contacto e o lance esfriou...quase um ano depois o produtor refaz a proposta...nove foras tudo ou nada, em março, uma semana antes do terremoto e tsunami que atingiram a região nordeste do país, entrei em estúdio e o cd foi lançado em julho último, apenas aqui.

O “Tony Pituco Freitas” pode ser encontrado para compra ou download no Brasil?

pituco: não, por enquanto é apenas vendido por aqui...mas, como todo bom brazuca, a gente sempre acaba dando um jeitinho...

Pretende voltar um dia para o Brasil?

pituco: paul, com a internet, seus sites e seus blogs bacanudos, inclusive o teu, parece que o brasil está dentro de meu barraco, aqui...e com uma galera pra lá de interessante e que posso visitar quando quiser...é só clicar e acessar...


“Beijo Torpedo” (Tony Pituco Freitas), Pituco (2011)

4 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Muito bacana a entrevista com o nosso bacanudo Mestre Pituco.
O disco realmente é de primeira, muito bem concebido e executado. Que venham outros e muito sucesso ao Embaixador na Terra do Sol Nascente.

pituco disse...

bródi paul,

valeô a força...muito obrigadô...domo arigatô

abrçsonoros e vamuquivamu

Paul Constantinides disse...

caro Erico, a quanto tempo. teu blog continua bombando como sempre.
sem duvida o trabalho de Pituco eh belissimo.
com certeza outras perolas surgirao.
abs
paul

Paul Constantinides disse...

domu arigato a vc grande Pituco pelo prestigio e boa vontade em conceder-me uma entrevista.
o tal trabalho merece ser divulgado mais e mais. A versáo bossa de India eh táo bela meu caro. parabens.
abs
paul