26/11/2008

SAUDOSAS BOLACHAS_04 (1970)

João Donato

"A BAD DONATO” (1970)

João Donato em 1970 completava 36 anos de idade.
Pianista irriquieto; naquela época jà tinha deixado sua marca no cenário da musica instrumental brasileira com 14 discos gravados desde 53. Dos primórdios da Bossa Nova até a eclosão do samba jazz. Foi durante este último período que Donato mudou-se para os Estados Unidos. Lá, em San Francisco, California (então uma meca hippie) que no glorioso ano de 1970 ele gravou um estoeante e saboroso Lp intitulado : “A BAD DONATO”.
Donato compôs melodias incrivelmente envolventes e no estilo elétrico e rápido de criar nuancias nos arranjos que tanto o caracterizam. Com a veia da criatividade solta e à toda; Donato se utilizou da parafernália possivel de teclados eletrônicos disponíveis onde estava vivendo. Reuniu um time de feras do Jazz Americano, trouxe Dom Um Romão na bateria para garantir o swing brasileiro e contou ainda com a participacao de Eumir Deodato nos arranjos.
A Bad Donato” é um disco que se ouve do princípio ao fim remexendo o corpo e a mente. Nota-se claramente a influencia da cultura psicodélica nas músicas. Você pensa que ouve samba, mas não é; você pensa que ouve xaxado, mas não é; maracatu...não é; black music...não é. O interessante é que a mistura de ritmos que resultaram neste disco mantiveram o seu frescor com o passar das décadas.
Hoje este disco pode ser visto como um marco do Jazz Brasileiro ou, como uns preferem, da Musica Instrumental Brasileira. Tanto pela originalidade como pela criatividade e também pela vertente aberta durante um período musicalmente efervescente no Brasil.

“A Bad Donato” é na verdade “A Great and Wonderful Donato”.


Victor Assis Brasil

“JOBIM” (1970)

Victor Assis Brasil em 1970 completava 25 anos de idade.
O jovem saxofonista naquele momento já vinha tocando desde 65 na noite carioca como também em Viena e Berlim, onde se descatou num Festival de Jazz levando o prêmio de melhor solista.
Havia gravado em 66 o LP “Desenho” e em 68 “Trajeto”, dois discos instrumentais, que o identificava como um saxofonista criativo e improvisador com forte influência do Jazz Americano.
De fato, em 69 Victor se muda para os Estados Unidos onde ganhara uma bolsa de estudos na
prestigiosa Berklee School of Music, em Boston. Lá, estudou harmonia, composição e arranjo por quase cinco anos.
Nas suas primeiras férias, chegando ao Rio no verão de 1970; Victor com seu sax-alto se reuniu com pianista Salvador,
Hélio Delmiro - guitarra, Edson Lobo – baixo e Edison Machado-bateria; formando um quinteto. Sob sua batuta, eles entraram num estúdio e fizeram um dos melhores discos brasileiros, jazzisticamente falando; pela forma conceitual, básica e criativa. Um disco chamado: “JOBIM”.
Talvez, este seja o primeiro disco totalmente dedicado a obra do Antonio Carlos Jobim de forma tão improvisada como Victor conseguiu fazer. Optando em não fazer uma reeleitura do trabalho de Jobim, mas uma reinterpratação direcionada ao Jazz.
“JOBIM
” é um primor qualitativo. Ouve-se ainda hoje a emoção do sax de Victor Assis talvez embalado pelas saudades que estava matando ou pelo prazer de fazer parte de um país que fazia (ainda faz) músicas maravilhosas e tinha (ainda tem) matizes e compositores como Jobim.
O disco tem quatro músicas apenas ( “Wave”,” Só Tinha Que Ser Com Você”, “Bonita” e “Dindi”), mas duram juntas: 36 minutos. Daí se pode ter uma idéia da viagem improvisacional que Victor realizou neste disco.
Uma pérola do Jazz Brasileiro fincada no peito do conturbado, irriqueito e ensolarado ano de 1970.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigada Paul por nos deixar compartilhar de suas cronicas e fotos maravilhosas.
Saudosas bolachas nos faz relembrar tempos bons. Parabéns pelo seu trabalho.

Abraços.

Jane