Escute “Esta Moça Tá Diferente” (BossaCucaNova)
1.Alex como nasceu o músico em voce? Influências familiares ?
R: Nasceu acho que como em todas as pessoas ligadas a música, da paixão pela musica e pela vontade de me expressar. Eu escutava muita musica e queria fazer musica, então tocar foi o caminho natural.
Tive influências na famíia, o meu primo Tibério Gaspar é um super compositor autor de musicas como "Sá Marina"," BR3" entre outras, e nos anos 70 fez muito sucesso junto com o Antonio Adolfo e grupo Brazuca.
O meu pai que é matemático, que nunca gostou dessa idéia, mas....
2.Você toca piano, guitarra, baixo e algo mais? Qual foi de fato o seu primeiro instrumento; e ser multi instrumentista é algo muito natural para você?
R: O meu primeiro instrumento foi o violão, estudei musica clássica com o Jodacil Damaceno e com o Nicanor Teixeira, dois grandes mestres de vários músicos brasileiros. Depois comprei um baixo para fazer uma banda com amigos (coisa de adolescente) e mais tarde surgiu o piano, mas o meu instrumento mesmo é a mesa de som, é no estudio que me sinto realmente a vontade, é o lugar aonde consigo me expressar, é como se fosse uma extenção da minha mente.
Como instrumentista sou muito limitado para os meus padrões e como multi instrumentista mais ainda. Essa coisa de tocar varios instrumentos é somente uma maneira de registrar ideias em produções que faço, coisa do mundo moderno e com ajuda das máquinas.
Fiquei muitos anos sem tocar envolvido com o trabalho em estúdio, nem instrumento eu tinha, voltei a tocar por conta do BassaCucaNova e agora não vivo sem o meu violão.
3. Tem algum artista que em determinado momento da sua formação foi uma grande referência para você?
R: O Marcos Valle é um cara que sempre alegrou minha vida desde os tempos da infância. Ele fez as musicas do "Vila Sésamo", programa de TV que marcou minha infância.
Depois descobri o Rock, a música clássica na figura de Villa Lobos (por conta do estudo do violão) e mais tarde o Jazz e a Bossa Nova. Depois no periodo romântico veio o Clube da Esquina.
Não posso deixar de mencionar o Roberto Menescal que é um grande professor e amigo e ensinou as artimanhas do estúdio e da vida e é uma grande referência.
O Carlos Lyra também, pela sua generosidade, amizade, sinceridade e conselhos sensacionais e senso critico invejavel, sem falar na sua obra. Nos tornamos amigos ha 15 anos, quando de lá para cá gravo todos os seus albums.
Como produtor admiro o Quincy Jones, pois ele atravessou toda a história da produção musical desde os 78 rotações até o surround, sem perder a criatividade e sempre se renovando, ele é o cara.
Tom Jobim, pelas músicas e pelo piano minimalista e certeiro, e, confesso que não passo um dia sem escutar Frank Sinatra, o maior cantor da história da musica pop.
Me considero uma pessoa de muita sorte pois me tornei parceiro musical de ídolos, no caso, Roberto Menescal, Carlos Lyra e Marcos Valle.
4.Durante sua adolescência você teve uma banda na escola. Qual era o nome da banda e que tipo de musica voces faziam?
R: Era o grupo "Prisma". Tocavamos um Rock meio Folk meio Progressivo, tinha até o meu momento solo de violão classico aonde eu tocava o "Mood For a Day" do Yes. Éramos o sucesso da escola (risos)!
Era uma época muito lúdica e nos divertiamos bastante. Tocamos em vários festivais escolares e aprendi bastante, sobretudo o que não fazer. Foi uma experiência crucial na minha vida. Aquilo determinou que realmente eu iria seguir o caminho da música e de lá para cá deu no que deu!
5.Como um carioca suportou o exilio das praias estudando na Escola Livre de Musica de Minas em BH? O que este curso signifou para vc?
R: Minas sempre esteve presente na minha vida. Minha mãe é mineira e sempre fui a Belo Horizonte passar o Natal. Eu soube pelo Jornal que o Milton Nascimento e Wagner Tiso haviam fundado uma escola de música em Belo Horizonte, aonde a música popular seria o enfoque principal. Aquilo soou como musica para mim. Era tudo que eu queria. Já tinha terminado os estudos e realmente queria a música.
Passei um ano e meio por lá estudando, praticando e respirando música integralmente. Acordava e ia para escola e ficava até tarde. Aprendi muito, conheci muita gente legal, passei a ter uma outra visão da música. Aquilo consolidou a minha escolha.
Quando eu voltei para o Rio, comecei a trabalhar em estudio de ensaio do meu primo Tibério, foi aonde esse lance de gravação e de tecnologia começou em minha vida. Gravamos demos em 4 canais, tudo bem tosco. Nesse estúdio conheci o Ronaldo Silva (filho do Robertinho Silva), que era um prodígio e estava tocando com o Milton Nascimento e com o Toninho Horta. Ele perguntou se eu queria ser Roadie, e eu nem pensei. Caí na estrada. Trabalhei como Roadie do Toninho Horta e depois do Flavio Venturini.
Com o passar do tempo já estava fazendo o monitor e depois o PA. Um amigo técnico de PA que trabalhava em estudio me convidou para ser assistente de estudio e eu que sempre gostei de desafios mergulhei de cabeça.
Foram dez anos na estrada, que me deram um conhecimento de tudo que acontece em um show. Eu sei montar o som, fazer o monitor o PA, isso ajuda muito na hora da comunicação. Já houve momentos em show do BossaCucaNova em eu passava o som da banda no PA e depois ia para o palco acertar o meu som.
6. Nos anos 90 vc foi um dos criadores do selo musical Cucamonga. Primeiro: de onde surgiu a idéia deste nome super bem humorado? Segundo: Como foi sua experiencia com o Cucamonga?
R: No final dos anos 80 comecei a trabalhar em estudio, pois a vida de técnico na estrada era muito cansativa. Eu vivia viajando e sempre tinha uma mala pronta em casa.
Começei como assistente no estúdio do Roberto Menescal e do Raymundo Bittencourt (ex diretor da gravadora SOM LIVRE). Aprendi bastante nesse tempo e fui assitente de grandes engenheiros.
Logo depois eu tive uma oportunidade de gravar um album pois o engenheiro teve um problema de familia e sabe como é, oportunidades são para serem aproveitadas, e eu
aproveitei. O meu primeiro album como engenheiro foi o “23” do Jorge Bem Jor. Acho que dei muita sorte.
Logo depois o Roberto Menescal me convidou para produzir dois albuns para a Sony Music (Nubia Lafaiete cantora da época do Rádio e uma dupla sertaneja que estava começando).
No estudio do Menescal eu conheci o DaLua (que na época não era DJ), o Dado e o Bernardo Bittencourt (filho do Raymundo), o Marcio Menescal eu já conhecia dos tempos de adolescência. Éramos a equipe técnica do estudio.
Quando o Menescal e o Raymundo resolveram fundar a gravadora Albatroz, nós pegamos carona e fundamos o Cucamonga, usando horários de estudio que não eram usados e nossa filosofia era produzir novos artistas.
O nome Cucamonga na realidade é o nome da cidade aonde Frank Zappa nasceu (Rancho Cucamonga na Califórnia) e também uma bricadeira e um nome bem sonoro.
Produzimos nomes como Clara Moreno (Filha da Joyce), Vitor Ramil, o grupo Coma, Vox 4 entre outros. Aprendi bastante nessa época sobre vários aspectos, desde a escolha do repertório quanto estratégias de marketing, capa etc.
Dizem que é errando que se aprende e erramos bastante mas também acertamos. O album da Clara, nós negociamos para o Japão e depois produzimos um album dela para uma gravadora japonesa. Depois veio o BossaCucaNova, que foi o sucesso do selo e também decretou o seu fim pois não tinhamos mais como gerenciar o selo e o grupo.
Logo após essa época comecei a masterizar albums pois era o único meio de continuar a vida no estudio, pois os trabalhos só duravam 1 dia e dava para conciliar com a agenda de shows. Confesso que não gostava muito mas comecei a restaurar discos antigos e tive a oportunidade de remasterizar obras como as do Baden Powell, Doces Bárbaros entre outros. Comecei a conhecer mais da música brasileira. Coordenei um projeto grande de restauração de 78 rotações (cerca de trinta mil títulos) para o instituto Moreira Sales, que hoje é referência em acervo e com banco de dados disponível para consulta.
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