18/04/2009

Alex Moreira

UM BANQUINHO E UM LAP TOP.



Alex Moreira é carioca, persona do bem, músico, compositor e produtor. Começou tocando baixo numa banda com amigos na adolescência; depois estudou música na escola de Milton Nascimento e Wagner Tiso em BH. Quando retornou ao Rio de Janeiro tornou-se Roadie de Toninho Horta e Flavio Venturinni; e em seguida começou a trabalhar num estudio de gravação. Desta experiencia, criou o selo Cucamonga e em 98 com Marcio Menescal e Marcelo Da Lua criou o BossaCucaNova. O BossaCucaNova, hoje com três discos lançados, é um grupo que introduziu uma musicalidade inovadora, trabalhando com matizes do samba, musica computadorizada e eletrônica; reiterpretando a Bossa Nova e partindo pra uma concepção contemporânea da musica popular brasileira.Casado e trabalhando com a cantora Cris Dellano, Alex Moreira recentemente esteve em Miami se apresentando com ela no show do BrazilianBeachFest. Aqui nesta entrevista ele nos fala um pouco de sua vida, da sua paixão por produção musical, do BossaCucaNova, de envolvimento com Cris Dellano e projetos.

Escute “Esta Moça Tá Diferente” (BossaCucaNova)



1.Alex como nasceu o músico em voce? Influências familiares ?

R: Nasceu acho que como em todas as pessoas ligadas a música, da paixão pela musica e pela vontade de me expressar. Eu escutava muita musica e queria fazer musica, então tocar foi o caminho natural.

Tive influências na famíia, o meu primo Tibério Gaspar é um super compositor autor de musicas como "Sá Marina"," BR3" entre outras, e nos anos 70 fez muito sucesso junto com o Antonio Adolfo e grupo Brazuca.

O meu pai que é matemático, que nunca gostou dessa idéia, mas....

2.Você toca piano, guitarra, baixo e algo mais? Qual foi de fato o seu primeiro instrumento; e ser multi instrumentista é algo muito natural para você?

R: O meu primeiro instrumento foi o violão, estudei musica clássica com o Jodacil Damaceno e com o Nicanor Teixeira, dois grandes mestres de vários músicos brasileiros. Depois comprei um baixo para fazer uma banda com amigos (coisa de adolescente) e mais tarde surgiu o piano, mas o meu instrumento mesmo é a mesa de som, é no estudio que me sinto realmente a vontade, é o lugar aonde consigo me expressar, é como se fosse uma extenção da minha mente.

Como instrumentista sou muito limitado para os meus padrões e como multi instrumentista mais ainda. Essa coisa de tocar varios instrumentos é somente uma maneira de registrar ideias em produções que faço, coisa do mundo moderno e com ajuda das máquinas.

Fiquei muitos anos sem tocar envolvido com o trabalho em estúdio, nem instrumento eu tinha, voltei a tocar por conta do BassaCucaNova e agora não vivo sem o meu violão.


Marcio Menescal, DaLua e Alex : BOSSACUCANOVA.

3. Tem algum artista que em determinado momento da sua formação foi uma grande referência para você?

R: O Marcos Valle é um cara que sempre alegrou minha vida desde os tempos da infância. Ele fez as musicas do "Vila Sésamo", programa de TV que marcou minha infância.

Depois descobri o Rock, a música clássica na figura de Villa Lobos (por conta do estudo do violão) e mais tarde o Jazz e a Bossa Nova. Depois no periodo romântico veio o Clube da Esquina.

Não posso deixar de mencionar o Roberto Menescal que é um grande professor e amigo e ensinou as artimanhas do estúdio e da vida e é uma grande referência.

O Carlos Lyra também, pela sua generosidade, amizade, sinceridade e conselhos sensacionais e senso critico invejavel, sem falar na sua obra. Nos tornamos amigos ha 15 anos, quando de lá para cá gravo todos os seus albums.

Como produtor admiro o Quincy Jones, pois ele atravessou toda a história da produção musical desde os 78 rotações até o surround, sem perder a criatividade e sempre se renovando, ele é o cara.

Tom Jobim, pelas músicas e pelo piano minimalista e certeiro, e, confesso que não passo um dia sem escutar Frank Sinatra, o maior cantor da história da musica pop.

Me considero uma pessoa de muita sorte pois me tornei parceiro musical de ídolos, no caso, Roberto Menescal, Carlos Lyra e Marcos Valle.


Bossacucanova em Curitiba.

4.Durante sua adolescência você teve uma banda na escola. Qual era o nome da banda e que tipo de musica voces faziam?

R: Era o grupo "Prisma". Tocavamos um Rock meio Folk meio Progressivo, tinha até o meu momento solo de violão classico aonde eu tocava o "Mood For a Day" do Yes. Éramos o sucesso da escola (risos)!

Era uma época muito lúdica e nos divertiamos bastante. Tocamos em vários festivais escolares e aprendi bastante, sobretudo o que não fazer. Foi uma experiência crucial na minha vida. Aquilo determinou que realmente eu iria seguir o caminho da música e de lá para cá deu no que deu!

5.Como um carioca suportou o exilio das praias estudando na Escola Livre de Musica de Minas em BH? O que este curso signifou para vc?

R: Minas sempre esteve presente na minha vida. Minha mãe é mineira e sempre fui a Belo Horizonte passar o Natal. Eu soube pelo Jornal que o Milton Nascimento e Wagner Tiso haviam fundado uma escola de música em Belo Horizonte, aonde a música popular seria o enfoque principal. Aquilo soou como musica para mim. Era tudo que eu queria. Já tinha terminado os estudos e realmente queria a música.

Passei um ano e meio por lá estudando, praticando e respirando música integralmente. Acordava e ia para escola e ficava até tarde. Aprendi muito, conheci muita gente legal, passei a ter uma outra visão da música. Aquilo consolidou a minha escolha.

Quando eu voltei para o Rio, comecei a trabalhar em estudio de ensaio do meu primo Tibério, foi aonde esse lance de gravação e de tecnologia começou em minha vida. Gravamos demos em 4 canais, tudo bem tosco. Nesse estúdio conheci o Ronaldo Silva (filho do Robertinho Silva), que era um prodígio e estava tocando com o Milton Nascimento e com o Toninho Horta. Ele perguntou se eu queria ser Roadie, e eu nem pensei. Caí na estrada. Trabalhei como Roadie do Toninho Horta e depois do Flavio Venturini.

Com o passar do tempo já estava fazendo o monitor e depois o PA. Um amigo técnico de PA que trabalhava em estudio me convidou para ser assistente de estudio e eu que sempre gostei de desafios mergulhei de cabeça.

Foram dez anos na estrada, que me deram um conhecimento de tudo que acontece em um show. Eu sei montar o som, fazer o monitor o PA, isso ajuda muito na hora da comunicação. Já houve momentos em show do BossaCucaNova em eu passava o som da banda no PA e depois ia para o palco acertar o meu som.


No palco com Cris Delanno.

6. Nos anos 90 vc foi um dos criadores do selo musical Cucamonga. Primeiro: de onde surgiu a idéia deste nome super bem humorado? Segundo: Como foi sua experiencia com o Cucamonga?

R: No final dos anos 80 comecei a trabalhar em estudio, pois a vida de técnico na estrada era muito cansativa. Eu vivia viajando e sempre tinha uma mala pronta em casa.

Começei como assistente no estúdio do Roberto Menescal e do Raymundo Bittencourt (ex diretor da gravadora SOM LIVRE). Aprendi bastante nesse tempo e fui assitente de grandes engenheiros.

Logo depois eu tive uma oportunidade de gravar um album pois o engenheiro teve um problema de familia e sabe como é, oportunidades são para serem aproveitadas, e eu

aproveitei. O meu primeiro album como engenheiro foi o “23” do Jorge Bem Jor. Acho que dei muita sorte.

Logo depois o Roberto Menescal me convidou para produzir dois albuns para a Sony Music (Nubia Lafaiete cantora da época do Rádio e uma dupla sertaneja que estava começando).

No estudio do Menescal eu conheci o DaLua (que na época não era DJ), o Dado e o Bernardo Bittencourt (filho do Raymundo), o Marcio Menescal eu já conhecia dos tempos de adolescência. Éramos a equipe técnica do estudio.

Quando o Menescal e o Raymundo resolveram fundar a gravadora Albatroz, nós pegamos carona e fundamos o Cucamonga, usando horários de estudio que não eram usados e nossa filosofia era produzir novos artistas.

O nome Cucamonga na realidade é o nome da cidade aonde Frank Zappa nasceu (Rancho Cucamonga na Califórnia) e também uma bricadeira e um nome bem sonoro.

Produzimos nomes como Clara Moreno (Filha da Joyce), Vitor Ramil, o grupo Coma, Vox 4 entre outros. Aprendi bastante nessa época sobre vários aspectos, desde a escolha do repertório quanto estratégias de marketing, capa etc.


Alex e seu instrumento preferido.

Dizem que é errando que se aprende e erramos bastante mas também acertamos. O album da Clara, nós negociamos para o Japão e depois produzimos um album dela para uma gravadora japonesa. Depois veio o BossaCucaNova, que foi o sucesso do selo e também decretou o seu fim pois não tinhamos mais como gerenciar o selo e o grupo.

Logo após essa época comecei a masterizar albums pois era o único meio de continuar a vida no estudio, pois os trabalhos só duravam 1 dia e dava para conciliar com a agenda de shows. Confesso que não gostava muito mas comecei a restaurar discos antigos e tive a oportunidade de remasterizar obras como as do Baden Powell, Doces Bárbaros entre outros. Comecei a conhecer mais da música brasileira. Coordenei um projeto grande de restauração de 78 rotações (cerca de trinta mil títulos) para o instituto Moreira Sales, que hoje é referência em acervo e com banco de dados disponível para consulta.


ESTA ENTREVISTA CONTINUA NO POST ABAIXO.

Nenhum comentário: