O ultimo caipira

Antonio Rita (1921-2011)

Meu sogro Antonio Ferreira, o Antonio Rita, faleceu madrugada passada aos 90 anos de idade. Aqui fica uma homenagem a este homem impar que nasceu e viveu sempre na pequena Boa Vista, Igaratá, SP. Um artesão da madeira, rei do Barreado (típica comida caipira), pai de sete, avô, bisavô e tataravô. Um dos últimos da sua geração genuinamente caipira.

“No Alpendre da Saudade” (João Pacifico) , Rolando Boldrin (Caipira 2)

O ULTIMO DOS CAIPIRAS
(Paul Constantinides)

Lá se vai o Antônio Rita
Saiu da roça, perdeu a lida.
Vida mardita!
Quem deixou aberta a ferida?
Quem levantou a poeira
Estrouvinhando nossa vista?

Lá se vai o Antônio Rita
Silencio na mata, nada pia.
O riacho espreita, o peixe desliza.
O dia não sabe se se inicia
Ou se fica na sombra
Enrola fumo e avisa:

“Catarina vai.
Catarina vem.
Se ela for,
Eu vou também.”

Quem sabe do Antônio Rita?
Andou a pé a inteira vida
De resto só montaria
Carpiu a mata e curtiu madeira
Botou no dorso da égua brejeira
Sem trégua. Fizesse sol, fizesse barro.
Vendia carvão, vendia lenha.
E de agrado, ainda, fazia um bom barreado.

Lá se vai a Antônio Rita
O caçador do Curupira
O artesão de mãos vazias
As criações espalhadas na capoeira
Os cães assustados com sua braveza
Um canivete no bolso, nada de ouro.
O chapéu de palha passando em sombra
Ali pela janela pequena onde se divisa
O morro do alto da Boa Vista.

Lá se vai o Antônio Rita
Um dos últimos caipiras.