Um Rock do Vale onde as montanhas são azuis.
Na primeira vez em que tive a oportunidade de ouvir a
banda Infra Áudio, no primeiro semestre de 2013 no Pátio dos Trilhos em
Jacareí; de imediato tive a impressão de estar diante de algo forte e
interessante. Não tive como não me desvencilhar do som que estava ouvindo e
sendo gerado pelo quarteto formado por Célio Esmério
na guitarra, Daniel Paiva no baixo, Felipe Felix na guitarra e Rodrigo Leal na
bateria.
Era um rock instigante e envolvente, com nuanças
interessantes que me faziam pensar num Pink Floyd, nos Mutantes da segunda fase
e, ainda, com um toque Radio Head na cabeça. Fiquei satisfeito quando notei que
a banda cantava em português e tinham repertório próprio.
Sonzão. O Infra Áudio traz no seu combo um rock
que pode ser considerado como Rock Progressivo. Claramente há talento e vibração no conjunto.
As guitarras de Felipe e Célio oscilam
desafiantes nas melodias que eles enveredam e o baixo e a bateria costuram por
volta e por cima, mantendo a pulsação. A mecânica da loucura. Eles buscam a
distorção e no fim de seus shows distorcem numa microfonia.
Mas o que mais me agrada no Infraaudio é que toda
vez em que o som deles inicia suavemente e vai desenhando um cenário onde um
vulcão esta prestes a explodir. Quando a explosão chega, a musica deles
transcende e sai daquele torpor para algo extremamente lírico. Este é o mote da
banda.
As letras, nas musicas, são esporádicas e também não
são a parte principal do corpo da musica, porem, possuem um contexto
interessante sobre delírios pessoais, intimistas entremeados com um discurso de contexto social e politico.
Os quatro integrantes da banda são autodidatas.
Quando adolescentes se entregaram as suas paixões musicais com empenho e se
transformaram numa banda de peso.
Outro aspecto interessante da banda é que seus
integrantes tomam parte de outras atividades culturais como em produções de filmes alternativos, de animações, do Batucaia
(um grupo de percussão) e organizaram no ano passado o JacaréNoise,
um concerto/festival de musica
alternativa que durou 04 meses, e ainda tem a perspectiva de se realizar
novamente este ano.
A galera jovem do Infraaudio esta conectada com o
tempo deles, fazem Rock brasileiro, ou como quer que seja, rock cantado em
português.
Eles são
muito bons e neste vale onde as montanhas são azuis o som deles tem ecoado
forte.
Segue aqui uma micro entrevista com Felipe Fenix,
o guitarrista do Infraaudio, e de quebra, escutem três musicas da banda.
Sonhos Estranhos Para Pessoas Que Não Dormem /
InfraAudio
Vivendo Solta
/ InfraAudio
Nada Alem Dali
/ InfraAudio
O
projeto infraaudio surgiu em 2004, fundado por mim, Fênix, e pelo meu grande amigo
de longa data, Célio Esmério. Mas não passou de 2 ensaios neste período, e foi
deixado de lado. Nós dois fomos para outros grupos da região. Então em 2010 nos
reencontramos e revisitamos o projeto para não mais parar.
Qual a origem do nome da banda?
Infraaudio
vem de infrasom, que são ondas sonoras extremamente graves, que fogem da faixa
audível do ouvido humano. Refere-se também a ondas infrassônicas que podem se
propagar por grandes distancias.
Influencias?
As
influencias de cada integrante são muitas e variada. Agora a influencia do som
do grupo, vem de bandas como Sonic Youth e outras da cena No Wave / Noise de
Nova York na década de 80 e 90. Bandas de post rock, como Explosions in the Sky
e Mogwai também fazem referencia. A psicodelia da banda vem de Pink Floyd,
Mutantes e Violeta de Outono e guitar bands como Radiohead, Pixies, Yo la Tengo
e Pavement também contribuem com o som.
Que vocês já fizeram, e quais os projetos para o futuro?
Temos
2 ep's gravados em estudios daqui de Jacareí. O primeiro gravado no extinto OEstudião,
hoje chamado de estúdio Boa Onda e o segundo gravado no Estúdio E!. Temos um
DVD gravado no CineTeatro Sala Mário Lago e 3 videos clipes oficiais. Tudo
disponível gratuitamente em perfis e redes sociais da banda. Temos também um
festival de Rock Independente e fundamos um coletivo de artes alternativas, o
Jacaré Noise Coletivo, que contamos com outros colaboradores. Nossos próximos
projetos serão lançar alguns videos e musicas gravadas ao vivo em apresentações
da banda no ano de 2013, principalmente materiais do show de encerramento do
Festival Infraaudio Convida, temos nos esforçado para continuidade do festival,
teremos a resposta em breve, pretendemos fazer mais projetos que envolvam a
cultura alternativa. O coletivo possui o projeto "Música na Tela" com
certeza iremos retomar neste ano. E a primeira ação é gravar e lançar nosso
primeiro álbum ainda no 1º semestre deste ano. Faremos a captação sonora em nosso
próprio estúdio de ensaio, na ideologia do "Faça Você Mesmo".
Como você se sente fazendo um tipo de musica que não é genuinamente
brasileira?
Talvez
não seja genuína, mas o rock tem muita historia aqui no Brasil. Já tem seu
legado. Sinto-me lisonjeado em fazer rock aqui, mesmo com toda a dificuldade.
Estamos dando sua continuidade, ainda resiste. Sentimento de desafio constante.
Como você enxerga o rock neste cenário? E porque vocês optaram em fazer
as letras em português?
Existem
muitas bandas de rock e muitos adeptos, fizemos um festival, acompanhamos
varios artistas, eu não consigo entender porque aqui em nosso país o segmento
não é valorizado. Mas pouco importa, continuaremos fazendo, independente se o
cenário é favorável ou não. Pra cena que dá visibilidade tem que se trabalhar
duro!!!
Cantamos
em português, pois é nossa língua. Nunca pensamos em cantar em outro idioma.
Gostamos de escrever e cantar em portugues.
Ano passado com o Festival Infraaudio Convida, vocês trouxeram diversas
bandas alternativas, de diversos lugares para tocar aqui em Jacareí, no Pátio
dos Trilhos. Você sente que ha algo novo neste cenário, se sua geração esta
formando uma nova onde de rock no Brasil, ou algo assim como nos anos 80/90. Ou
pensa que o mercado de musica não absorve este tipo de musica, ainda? Que você
pode dizer de como sobreviver com sua banda neste cenário atual?
Tivemos
um feedback muito importante com a execução do festival, vimos que outras
bandas e artistas de diferentes localidades se interessaram e se identificaram
com a proposta. O lance do intercambio cultural é fundamental, fizemos imensos
contatos e amizades, sem contar na divulgação do rock de Jacareí para 3 estados
e 12 municípios diferentes.
Tem
muita banda boa neste novo cenário do rock independente, tem bastante coisa,
não podemos nunca enxergar essa grande leva de bandas como concorrentes e sim
como parceiros, sentimos a falta de bandas parceiras aqui na cidade, as bandas que
geram parcerias com a gente são de Mogi das Cruzes e São José dos Campos. Temos
que revolucionar ainda mais para essa nova onda estar em ascensão. O mercado
fonográfico pra bandas independentes é estreito tem que se esforçar a cada dia,
cada vez mais, e nunca desistir para sobreviver sempre. Acredito que consigamos
fazer historia, se já não estamos fazendo.
2 comentários:
AE Paul! Muito legal!!! Muito grato pelas palavras e pelo espaço! Abraço.
A-do-rei o texto 'dizente' sobre a Infraaudio. Jovens talentosos e bem queridos! Merecedores de bons ouvidores! Parabéns, Paul e Infra!
Bjo
Thaís Nozaki
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