27/04/2010

Saudosas Bolachas (10/1973)

o samba e sua excelência...


ROBERTO SILVA
SAUDADE EM FORMA DE SAMBA (1973)

Cantor de samba, nascido em 1930, conhecido como princide do samba nos anos 40, ficou famoso pelo estilo indolente e sincopado de suas interpretações, notadamente inspirado em Orlando Silva e Cyro Monteiro.
Entre os anos 30, 40 e 50 Roberto chegou a gravar 350 canções em 78 rotações e 20 Lps. Afastado do mundo musical desde o inicio dos anos 60, em 1973 foi lançado um belo album com coletânea de várias gravações deste gracioso e excelente cantor.
Sambista da primeira hora, rememorado oportunamente em 73.

Saudade dela (Ataulfo Alves)

Maria Tereza (Altamiro Carrilho)

Morena boca de ouro (Ary Barroso)




EDUARDO GUDIN
EDUARDO GUDIN (1973)


Violinista talentoso, Eduardo Gudin (cantor e compositor paulistano) aos 16 anos já tocava com Elis Regina no Fino da Bossa, em 66. Já em 68 participa do Festival da Record e classifica-se para a fase final com “Choro do Amor Vivido” (Walter Carvalho/Eduardo Gudin), com arranjos de Hermeto Paschoal.
Dedicado a estudos musicais e acompanhando artistas renomados no inicio de sua carreira, foi apenas em 73 que ele conseguiu gravar seu primeiro album.
Com composições próprias e revelando-se um sambista passional e encantador, supõe-se que tenha sofrido resistências por ser um sambista de São Paulo.
Neste disco Eduardo Gudin traz parcerias com Paulo Cesar Pinheiro e o apoio vocal da cantora Jane Moraes.
Como a bela capa do disco, é samba de roda em mesa de bar.

A Velhice da Porta-Bandeira ( Eduardo Gudin - Paulo Cesar Pinheiro)

E la´ se Vao Meus Aneis ( Eduardo Gudin - Paulo Cesar Pinheiro)

Deixa Teu Mal (Eduardo Gudin - Paulo Cesar Pinheiro)




MARTINHO DA VILA
PELO TELEFONE (1973)


Em 1973, Martinho da Vila, cantor e compositor de samba carioca que surgira em 69 já chegava ao seu quinto album. A esta altura já trazia alguns sucessos na bagagem como “O Pequeno Burgues”, “Pra Que Dinheiro” e “Quem É Do Mar Não Enjoa”’. Também, fazia com bastante desenvolturasambas com leve escracho, bastante sensualidade, balanço e de grande alcance popular.
Neste período Martinho estava pavimentando a base do fato de ser hoje um dos sambistas de grande prestigio no Brasil.
Em “Pelo Telefone” Martinho resgata o que é considerado o primeiro samba feito na história; “Pelo Telefone” de Mauro de Almeida e Donga.
Traz ainda um samba de rápida identificação “Não Chora Meu Amor Não Chora” e ainda, uma inédita do então principiante compositor, João Nogueira (Beto Navalha).

Não chora, meu amor (Martinho da Vila)

Pelo telefone (Mauro de Almeida - Donga)

Beto Navalha (João Nogueira)




PAULINHO DA VIOLA
NERVOS DE AÇO (1973)

Paulinho da Viola , em 1973, já era um respeitado compositor apreciado pela MPB sendo um sambista da gema. Com gravações desde 1965 , com o sucesso das gravações com Elton Medeiros
(Rosa de Ouro/Roda de Samba), com o estrondoso sucesso de “Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida” e ainda, depois de dois álbuns gravados e lançados em 71; e o sucesso de “Dança da Solidão” em 72. Em 73 Paulinho faz um disco intimista e dolorido. Canções esculpidas com tamanha crueza, que sabiamente são coroadas com a bela versão de um clássico de Lupicinio Rodrigues “Nervos de Aço”.
“Você sabe o que é meu senhor
Ter amor por uma mulher
E vê-la nos braços de um outro qualquer?”

Comprimido (Paulinho da Viola)

Nervos de Aço (Lupicínio Rodrigues)

Cidade Submersa (Paulinho da Viola)




JAIR RODRIGUES
ORGULHO DE UM SAMBISTA (1973)


O cantor paulista Jair Rodrigues em 1973 consolidava a sua carreira solo, após passar grande parte dos anos 60 cantando e apresentando-se em dueto com Elis Regina no programa O Fino da Bossa.
Agraciado com o sucesso de Disparada (Geraldo Vandre/Theo de Barros) em 66, desde então Jair Rodrigues identificou-se como um cantor vigoroso e versátil. Cantando sambas, jazz e ainda musica regional e sertaneja.
Em 73 Jair já gravava o décimo quinto album de sua carreira, destes, 03 gravados com Elis Regina). “Orgulho de Um Sambista” traz o cantor vibrante e envolvente com o belo samba-enredo “TemCapoeira”(Batista da Mangueira), traz a interessante versão de “O Menino da Porteira”(Teddy Vieira/Luisinho) e sambas interpretados por um cantor singular.

Sou da Madrugada (Gilson de Souza / Wando)

Tem Capoeira (Batista da Mangueira)

Orgulho de Um Sambista (Gilson de Souza)

23/04/2010

Na Era dos Trios (05)

JONGO TRIO
(1965-1969)

Jongo Trio foi um trio formado em São Paulo em 1965 pelo pianista Cido Bianchi, que tocava na boate Stardust, o baixista Sabá (que tocava na Baiuca) e o baterista Toninho (que tocava com Pedrinho Mattar).
O Jongo aconteceu na noite paulistana, pelo circuito paulista da Bossa Nova (Teatro Arena, Boate Cave, Teatro Paramount e o programa de Tv, o Fino da Bossa). Acompanharam por dois anos a dupla Elis Regina e Jair Rodrigues.
Uma das características marcantes do Jongo Trio é que além da excelente musicalidade havia uma afinação vocal muito apreciada no trio e que usavam invariavelmente em suas versões.
Em 69 o grupo se desfaz, mas logo uma nova formação surge como o nome de Jongo Trio e Companhia, que gravaria em 70 e 72.
Ficou para a posteridade o belo album gravado em 1965.

Eternidade (Luis Chaves / Adilson Godoy)

Garota Moderna (Evaldo Gouveia / Jair Amorim)

Arrastão (Edu Lobo)



JOÃO DONATO E SEU TRIO
(1962-1963)

Em 62 quando João Donato volta de uma temporada de 04 anos nos Estados Unidos, sua cabeça imersa em Jazz e vislumbrando o estouro da Bossa Nova o levou a formar um trio com Tião Neto (baixo) e Milton Banana (bateria).
Gravaram o album “ Muito a Vontade”(1962) que é considerado o primeiro disco de João Donato exclusivamente ao piano e com nove composições suas entre as 12 gravadas.
Em 63 voltariam com o excelente “A Bossa Muito Moderna”. Este album traz “Indio Perdido” (João Donato) que anos depois Gilberto Gil colocaria letra e a transformaria em “Lugar Comum”.
O João Donato Trio é marcante e moderno. Traz o inquieto piano de Donato, a maciez percurssiva de Banana e o amalgama tonal de Tião Neto.

Muito À Vontade (João Donato)

Outra vez (Tom Jobim)

Índio perdido (João Donato)




JORGE AUTUORI TRIO
(1966-1970)


Jorge Autuori baterista pernambucano (?) comparado a Milton Banana pelo estilo leve e envolvente de tocar Bossas e Samba Jazz. Realmente ao ouvir seus albums percebe-se com clareza o domínio e a técnica de Autuori.
Entre 67 e 70 encontram-se três álbuns gravados pelo Jorge Autuori Trio.
Jorge Autuori Trio, Vol.01 (1967), Jorge Autuori Trio, Vol.2 (1968), pela Mocambo Recordos, e Ovalô (1970) pela RCA Victor. Em nenhum dos três álbuns se encontra os créditos do pianista e do baixista. Excesso de personalismo, falha da produção?
Assim mesmo o som permanece, claro, límpido, maneirissimo.

Capoeira De Oxalá ( Luiz Carlos Sá)

Zazueira (Jorge Ben "Jorge Benjor") -- Que Pena (Jorge Ben "Jorge Benjor") -- País Tropical (Jorge Ben "Jorge Benjor")

Tem Mais Samba(Chico Buarque De Hollanda

20/04/2010

Saudosas Bolachas (09/1973)

Os experimentais, os anti-convencionais, os audazes.....



WALTER FRANCO

CABEÇA”(1973)


A CAPA: UMA MOSCA SOBRE O FUNDO BRANCO. O CORTE RACIONALISTA. NADA TEM VALOR, TUDO TEM.

Filho do poeta Cid Franco, Walter Franco (São Paulo, 1945) , musico e compositor, se tornou conhecido durante o periodo em que quando cursava o EAD (Escola de Arte Dramática) da USP. Uma de suas primeiras criações foi musicar peças de seus colegas. Sua musicalidade, pouco convencional chamou a atenção da TV Tupi que usou uma musica sua como tema de uma telenovela, Hospital, em 1971.
Com um compacto simples gravado e participações marcantes no I, II e III Festival Universitário de São Paulo, Walter chegou a ter uma musica defendida por Geraldo Vandré (Não se Queima um Sonho).
Walter Franco nasceu num período em que facilmente se influenciaria pela Bossa Nova, pelo Rock e pelo Jazz. Inquieto ele buscava em sua musicalidade uma linguagem formal diferenciada. Texto e musica disassociados, interagindo aleatóriamente. Sussurros, dissonâncias e passagens de grande intensidade sonora.
Influenciado pela poesia concreta Walter Franco em 1972 causou furor no VII Fic, da TV Globo, Rio de Janeiro ao apresentar a clássica “Cabeça”(Walter Franco). A musica tem a duração de 6 minutos e canta repetidamente a palavra “cabeça”, “cabeça”, “saiba que ela pode explodir”, “ou não”.
Em 1973 ele lança o primeiro álbum de sua pequena discografia, “Cabeça”.
Considerado de vanguarda por alguns e desprezado por muitos críticos de musica, na verdade Walter Franco sempre tomou uma atitude alheia a tudo isto. Jamais se engajou a um movimento estético ou musical ou lançou diretrizes.
Solitário e curioso, fez seu discurso poético e musical num período em que pensar em fazer algo semelhante era praticamente impossível; e Walter fez.
Seu trabalho ainda hoje tem um caráter inovador.
“Me Deixe Mudo”é uma síntese concretista-musical extremamente interessante e executada
de forma improssionante.
Walter Franco é cabeça, cabeça irmão.

“Me Deixe Mudo”(Walter Franco)

“Cabeça”(Walter Franco)

“Mixturação”(Walter Franco)




TOM ZÉ
TODOS OS OLHOS”(1973)


A CAPA: A INTENÇÃO SERIA UMA BOLA DE GUDE SOBRE UM ANUS (O OLHO DO CU). MAS A FOTO USANDA, REPRODUZINDO ESTA IDÉIA, É DE UMA BOLA DE GUDE SOBRE LÁBIOS FEMININOS.

Compositor, cantor e arranjador nascido em Irará (Bahia), Tom Zé aprendeu musica ouvindo rádio em sua terra natal. A juventude passou na Universidade da Bahia em Salvador, onde estudou Musica e aprendeu ,entre outras coisas, a tocar piano e violoncelo, além de harmonia e composição. Neste período, início dos anos 60, conheceu Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethania e Gal Costa, com quem montou um grupo para os espetáculos “Nos, Por Exemplo” e “Velha Bossa Nova e Nova Bossa Velha”. Partiu para São Paulo com seus amigos e participou do espetáculo “Arena, Canta Bahia”.
Durante 67, 68, participou ativamente do movimento Tropicalista. Fez parte do histórico disco “Tropicalia ou Panis Et Circenses”(1968) e no mesmo ano venceu o Festival de MPB de São Paulo com o hino “São Paulo, Meu Amor”.
Tom Zé lançaria seu primeiro album no mesmo ano “Rozemblit”.
Em 1973 ele lança seu quarto album “Todos os Olhos”.
“Todos os Olhos” é um disco marcante na carreira de Tom Zé, é o momento onde este inquieto compositor e cantor rompe com um patamar que havia alcançado na musica e parte para uma concepção mais radical e inovadora.
Usando-se de uma musicalidade por vezes dissonante, outrora distorcida, o certo é que a veia deste compositor passei livre por “Todos os Olhos” e oferece um panorama interessante de musicas pos-tropicalistas.

“Complexo de Épico” (Tom Zé)

“Augusta, Angélica e Consolação”(Tom Zé)

“Botaram Tanta Fumaça”(Tom Zé)



CAETANO VELOSO
ARAÇÁ AZUL”(1973)

A CAPA: O UMBIGO. A IMERSSÃO DO LIRICO NA TERRA.

Durante o ano de 72 , Caetano Veloso recém chegado do exílio na Europa decidiu fazer um trabalho musical imerso no expirimentalismo no período em que buscou isolado na Bahia um rumo. Vislumbrando a sua trajetória musical, entende-se que naquele momento o compositor e cantor bahiano viveu um tipo de cartase. Surfando e divagando sobre possibilidades musicais diferenciadas e líricas que iam de assovios, poemas seus e de Souzandrade a instrumentos musicais pouco convencionais (pratos, batuques no peito e invenções de Walter Smetak – inventor de instrumentos musicais da Bahia).
Trata-se de um disco muito único nas intergralatáctica discografia do compositor; um disco experimental que causou certo descontentamento a sua gravadora Polygram, que imediatamente após o seu lançamento recolheu o produto devido ao grande numero de devoluções e o retirou de catálogo.
O disco logo tornou-se cultuado por uma fiel legião de fãs e foi relançado em 87 quando voltou a ganhar interesse de um publico maior.
Araçá Azul é um tipo de disco importante no entendimento das coisas que rolavam nos primeiros anos 70. O trabalho remete em si um desejo de liberdade inserido no contexto político e social daquele período
.Caetano colocou num caldeirão as coisas “loucas” (experimentais) dos discos “loucos” (rock e jazz) dos anos 60/70 e que geralmente apareciam em apenas uma faixa, ou num pequeno trecho; e fez um disco inteiro com isto tudo.

“Sugar Canes Fields Forever”(Caetano Veloso)

“De Conversa/Cravo e Canela”(Caetano Veloso/Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)

“Gilberto Misterioso”(Caetano Veloso)

15/04/2010

Na Era dos Trios (04)

COPA TRIO
(1962-1964)

O Copa Trio foi fundado em 1962 pelo baixista Manuel Gusmão. O Trio era completado por João Palma (bateria) e Toninho Oliveira (piano). Mas por causa de fatores logísticos, ainda no mesmo ano o trio ficou composto por Manuel Gusmão (1927-2006) no baixo, Dom Um Romão (1925-2005) na bateria e Dom Salvador (1938) no piano , a formação que notorizou o trio.
O Copa Trio acompanhou Elis Regina em seu primeiro show no Little Club , nos Becos das Garrafas. O Copa Trio é o trio citado por Ruy Castro (no livro “Chega de Saudade”) quando relata o episódio no Hotel Danubio de São Paulo que se recusou a receber Dom Um Romão e Dom Salvador como hospedes devido a cor deles.
O Copa Trio chegou a gravar um compacto (78 rotações) e a participar de compilações como “A Bossa no Paramount” (63) e “E Tempo de Musica Popular Moderna”(64).
Manuel Gusmão mantinha além do Copa Trio o Copa 5 que é o conjunto de base e arranjo da gravação do antológico álbum de Jorge Ben “Samba Esquema Novo”(1963).
O Copa Trio existiu por pouco tempo mas foi lampejante. Seus componentes seguiriam caminhos diversos, Don Salvador como Dom Um Romão formariam seus próprios trios e conjuntos; Manuel Gusmão tocaria no Conjunto 3D (Antonio Adolfo), viveria nos Estados Unidos, tocou com João Donato por um longo período, mas infelizmente tem-se poucos registros deste grande baixista assim como do trio.

Escute a única faixa que possuo do trio do disco “É Tempo de Musica Popular Moderna” a faixa
“Meu Fraco é Café Forte”(Dom Salvador/Manuel Gusmáo).




EMBALO TRIO

(1965)


O Embalo Trio era formado por Roberto Mancilha Torres no pinao, Faud Salomão Sobrinho na bateria e Everson Augusto da Silveira no baixo.
Pouco se sabe a respeito deste trio, sua origem e procedência. Porém no único registro deste Trio feito na luz do ano de 1965 pode-se vislumbrar a beleza do trio em sua musica. Imerssos na Bossa Nova, na Toada e no Samba Jazz; o Embalo Trio é outra jóia deste período jazistico que floresceu no Rio de Janeiro e parte de São Paulo durante os anos 60. Escute o álbum na integra. Embalo Trio: três figurinhas, papelzinhos coloridos recortados pelo teclado preciso de Roberto Mancilha, ganhando tom e emoção com o baixo de Everson Augusto e ritmo com a bateria de Faud Salomão.

01 - Canção da Terra (Edu Lobo / Ruy Guerra)

02 - Diz (Walter Santos / Tereza Souza)

03 - Só Tinha Que Ser Com Você (Tom Jobim / Aloysio de Oliveira)
Das Rosas (Dorival Caymmi)
Você (Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli)
Samba do Avião (Tom Jobim)
Primavera (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)
Saudade (Silvio César)
Minha Namorada (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)
Garota de Ipanema (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
Consolação (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
Só Danço Samba (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)

04 - Chuva (Durval Ferreira / Pedro Camargo)

05 - Nordeste (Everson Silveira / Faud Salomão / Roberto Torres)

06 - Eu Vivo Num Tempo de Guerra (Edu Lobo / Gianfrancesco Guarnieri)

07 - Resolução (Edu Lobo / Luis Fernando Freire)


08 - Venha Ser Feliz (Edu Lobo / Gianfrancesco Guarnieri)

09 - Chegança (Edu Lobo / Oduvaldo Viana Filho)

10 - Giramundo (Luis Carlos Sá)

12/04/2010

Saudosas Bolachas (08/1973)

A Latitude Nordestina no Quadrante das Ruas


PESSOAL DO CEARÁ
(EDNARDO, RODGER E TETTY)
MEU CORPO/MINHA EMBALAGEM/
TUDO QUE É VIAGEM”(1973)

Em Fortaleza, Ceará, desde os anos 60 uma fermentação musical ocorria na cidade reunindo músicos jovens embebidos pelo rock, pela contra cultura e pela tradição musical do local que além do canto regional; trazia o cordel e ainda, uma forte tradição poética literária.
Os pontos de encontro desta comunidade giravam entre a Faculdade de Arquitetura de Fortaleza e o Bar do Anisio no centro da cidade. O Pessoal do Ceará foi um produto inventado pelo produtor Moracy Do Val para oferecer ao publico do sul do Brasil a idéia de uma versão cearense dos Novos Baianos.
Na verdade Ednardo, Rodger Rogério e Tutty eram músicos que se conheciam e eventualmente cantavam juntos e tocavam composições um do outro. Mas não havia entre eles a coesão comunitária que havia nos Novos Baianos. O grupo de fato não era um grupo; mas sim, no melhor sentido, uma amostra da produção musical decidadamente moderna naquele momento, no Ceará.
O fato em si trouxe a tona a realeza e a beleza de Ednardo, cantor e compositor de importante expressão a partir de então. Trouxe a bela voz , preciosa, doce e afinada de Tutty e as composições expressivas de Rodger Rogério.
O álbum tem uma beleza lírica impressionante , traz arranjos criativos com a mão do bossa novista Hareton Salvanini, que , seguindo a tônica imperativa, mixou temas folclóricos com temas de rock e musica pop; dando ainda assim, um clima de suavidade intensa .

Terral (Ednardo)

Curta Metragem (Rodger Rogério / Dedé -José Evangelista)

Falando da Vida (Rodger Rogério / Dedé -José Evangelista)



FAGNER
"MANERA FRU-FRU" (1973)

Em 73 o cantor cearense Fagner que chegou ao Rio em 72 depois de descer pelas regiões centrais do Brasil vencendo concursos universitários com sua voz escarniçada, afinada e tocante.
Provindo de um ambiente onde a musica de Belchior florescia, Fagner ganhou notoridade com a gravação de sua “Mucuripe”(Belchior/Fagner) por Elis Regina (1972).
Com este prestigio as portas da gravadora Phillips se abriram ao cantor compositor que grava “Manera Fru Fru” trazendo a tona uma musica notadamente urbana e nordestina.
Com produção de Roberto Menescal e arranjos de Ivan Lins e participações de Nana Vasconcellos e Nara Leão. Fagner traz um repertório onde canta versões folclóricas como em o “Canto do Tiê”(com Nara Leão) , clássicos regionais como o “O Ultimo Pau de Arara”( Venâncio / Corumba / José Guimarães) e outras mescladas de ritmos nordestinos com ritmos de rock e musica pop como a própria canção titulo do álbum “Manera Fru Fru”(Fagner/Ricardo Bezerra).

Último Pau-de-arara (Venâncio / Corumba / José Guimarães)

Pé de Sonhos (Petrúcio Maia / Brandão) with Nara Leao

Manera Fru Fru Manera (Fagner / Ricardo Bezerra)



DOMINGUINHOS
FESTA NO SERTÃO” (1973)

Dominguinhos afilhado musical de Luiz Gonzaga, de quem ganhou uma sanfona depois que Luiz o viu tocando na rua na porta de um hotel no Recife.
Sanfoneiro desde a infância, Dominguinhos chegou ao Rio de Janeiro com 14 anos de idade tocando na rua, em festas, concertos e restaurantes.
Sua habilidade e destreza no teclado da sanfona lhe rendeu a admiração necessária para que calgasse adiante se apresentando em programas de rádio e consequentemente a gravar discos; como de fato iniciou em 1964.
Depois de gravar três discos, em 66 Dominguinhos retorna ao Pernambuco onde permanece por alguns anos. Em 73 ele volta ao mercado discográfico e as apresentações trazendo composições próprias e desenvolvendo um estilo mais arrojado em que ao mesmo tempo em que imprimia ritmos notadamente nordestinos trazia a inovação com a incorporação de novos sotaques de músicas urbanas.
Este estilo aproximou Dominguinhos de um universo pouco freqüentado por músicos de sua natureza, a MPB . Desde então Dominguinhos passou a ser requisitado em gravações e shows. Passaria a gravar com Gilberto Gil, Gal Costa, Chico Buarque entre outros.

Amor estou voltando (Dominguinhos)

Festa no sertão (Dominguinhos)

Homenagem a Pixinguinha (Dominguinhos)



QUINTETO VIOLADO
"BERRA-BOI" (1973)

Depois do album de estréia em 72 o grupo pernambucano, Q uinteto Violado, volta em 73 com o mesma suavidade musical interpretando musica regional nordestina com um tratamento requintado e coeso.
MarceloMelo(violão), FernandoFilizola(viola), Luciano Pimentel (percussão), ToinhoAlves(baixo) e Sando (flauto) seguima em frente transformando ritmos regionais, nordestinos, em musica urbana. Outrossim, difundido este gênero musical para as sociedades urbanas, inserindos desta forma este gênero musical de forma que, definitiva, no cenário da musica brasileira.
Neste álbum de 73 o grupo reúne composições próprias e trazem uma inédita do sanfoneiro Dominguinhos.
A faixa “Abraço a Hermeto” demonstra a sintonia do grupo com a vertente contemporânea daquele momento. Hermeto Paschoal, musico , compositor pianista nordestino ligado ao Jazz; que naquele momento começava a sua carreira solo brilhando nos Estados Unidos e Europa.

Vaquejada (Toinho Alves / Luciano Pimentel / Marcelo Melo)

Abraço ao Hermeto (Sando / Toinho Alves)

Forró do Dominguinhos (Dominguinhos)

07/04/2010

Na Era dos Trios (03)

BOSSA TRÊS
(1961-1966)

Nascido da efervescência jazzística do Beco das Garrafas do Rio anos 60; o Bossa Três surgiu em 61 da reunião de Luis Carlos Vinhas (piano), Tião Neto (baixo) e Edison Machado (bateria).
Luis Carlos Vinhas (1940-2001) pianista da primeira hora da Bossa Nova trazia requinte e inventividade pulsiva em seu teclado; Edison Machado (1934-1990) com seu samba no prato suportava com sua sutileza sonora a musicalidade do Trio; e por fim o baixo de Tião Neto (1932-2001) pulsava por entre as notas soltas do piano e a percurssividade rítmica com desenvoltura e precisão.
Bossa Três transpira o samba lapidado no jazz.
De momentos preciosos se faz a musica deste trio.
O Bossa Três lançou seis albums: “Os Bossas Três (1962)”, “Bossa Três e Seus Amigos”(1962), “Bossa Três em Forma”(1965) e “Bossa Três”(1966) são albums unicamente do Trio. Fizeram ainda em duo outros dois: “Bossa Três e Jo Basile” (1962) e “Bossa Três e Lennie Dale”(1962).
O Bossa Três em 64 foi aos Estados Unidos e de lá voltou apenas Luis Vinhas que convidou Octávio Bailly Jr e Chico Batera para substituírem Tião Neto e Edison Machado. O Bossa Três durou até meados de 66.
Edison Machado formou o famoso quarteto Edison Machado.
Luis Vinhas tocou e arranjou para diversos artistas como Bethânia e Elis; e lançou discos solos.
Tião Neto fez parte posteriormente do Bola Sete Trio e acompanhou expoentes da musica brasileira como João Gilberto e Tom Jobim em shows, excursões e gravações.

Tema Bossa Três (Tião Neto)

Céu e mar (Johnny Alf)

Só saudade (Tom Jobim)

Influência do jazz (Carlos Lyra)



BOLA SETE TRIO
(1966)

Bola Sete, nascido Djalma de Andrade (1923-1987) foi um guitarrista brasileiro extremamente expressivo no cenário contemporâneo do Jazz Brasileiro. Seu estilo até hoje influência músicos da geração atual. È evidente sua influência no álbum "Zii e Zie" de Caetano Veloso.
Bola Sete no entanto não é lembrado no Brasil como merece a sua expressiva obra e seu incomparável talento. Talvez por ter sido um dos primeiros músicos de sua geração a sair do Brasil e radicar-se nos Estados Unidos (note-se que dos 17 albuns que gravou , apenas o primeiro de 1958, foi feito no Brasil), ou ainda,talvez, por não se prender unicamente a um gênero.
Porem Bola Sete jamais distanciou-se de uma expressão genuinamente brasileira.
Em 1966 ele trabalhou formando um trio se reunindo com o ex-Bossa Tres , Tião Neto (baixo) e Paulo Magalhães (bateria). Juntos gravaram um único álbum, Autêntico.
Neste álbum o Bola Sete Trio emerge num repertório que transcreve uma mistura de estilos que vai de choros como “Brejeiro” e “Odeon” de Ernesto Nazareth, toadas como “Consolação”de Baden Powell, marchas como ”Quindin de Ya Ya”(Ary Barroso) a regionais como “Pau de Arara”(Luiz Gonzaga/Guio de Morais) e “Mulher Rendeira”, entre outros temas.
O resultado é um álbum cheio de cores e matizes dedilhadas pela guitarra criativa e serena de Bola Sete e conduzidas com maestria por Tião Neto e Paulo Magalhães.

Brejeiro (Ernesto Nazareth)

Consolação (Baden Powell)

Quindim de Iaiá (Ary Barroso)

Pau-de-arara (Guio de Morais - Luiz Gonzaga)